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Veterinário explica como funciona a vacina recombinante contra a Leishmaniose Visceral Canina

Por Equipe Cães&Gatos
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Por Equipe Cães&Gatos

Causada por protozoários do gênero Leishmania, sendo o agente etiológico no Brasil pertencente à espécie Leishmania infantum (= chagasi), a leishmaniose visceral (LV) é uma zoonose capaz de acometer diversas espécies domésticas e silvestres, além do homem.  A doença é endêmica mundialmente e, de acordo com o Ministério da Saúde e Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), de todos os casos humanos registrados na América Latina, cerca de 90% ocorrem no Brasil.

Raposas silvestres e marsupiais são os principais reservatórios do protozoário e não são acometidos pela doença, mas o papel dos cães no ciclo da LV é muito relevante, visto que eles atuam como reservatórios importantes na transmissão da enfermidade para os humanos, especialmente nas áreas urbanizadas.

O médico-veterinário especialista em dermatologia veterinária e gerente Técnico da Unidade Pet da Ceva Saúde Animal, Claudio Nazaretian Rossi, explica que o inseto flebotomíneo, que é o principal vetor do protozoário, ao picar um animal infectado pode abrigar o parasita em seu tubo digestório, onde ocorre parte do ciclo biológico da Leishmania até a formação da sua forma infectante (promastigota metacíclica). Após isso, ao picar um cachorro ou humano sadio, o parasita presente no tubo digestório do inseto pode ser transmitido, desencadeando um novo ciclo de transmissão da doença para outro hospedeiro vertebrado.

Com a inoculação do protozoário em sua forma flagelada na pele do cão, ocorre, inicialmente, uma resposta inflamatória local e a fagocitose do parasito por células de defesa, particularmente macrófagos, dentro dos quais ocorre a perda do flagelo e o protozoário atinge a forma amastigota, que se multiplica por divisão binária no interior destas células. “A multiplicação das Leishmanias pode promover o rompimento dos macrófagos, desencadeando a sua liberação e nova fagocitose por outros macrófagos, até a sua disseminação, nos animais suscetíveis, para qualquer órgão, tecido ou fluido corporal, especialmente para órgãos linfoides (linfonodos, medula óssea, baço e fígado)”, discorre.

Segundo Rossi, do momento em que o cão contrai o protozoário até o aparecimento das primeiras manifestações clínicas da doença podem se passar meses há anos. “Embora possa permanecer assintomático, um animal infectado pode atuar como reservatório do parasita, dificultando o controle da enfermidade, especialmente nas áreas em que há muita incidência de flebotomíneos, pois pode ser picado por outros insetos que passam adiante o protozoário ao picar animais ou pessoas. Esta é uma das razões pelas quais a LV é considerada uma doença silenciosa, de evolução crônica, e que está em ascensão no País, particularmente no que tange a dispersão territorial”, relata.

Até pouco tempo, como lembrado pelo executivo, a eutanásia de cães positivos para LV era obrigatória. Atualmente, apesar da possibilidade em determinados casos, a eutanásia não é mais mandatória, mas é importante destacar que não há, até o momento, fármacos disponíveis no mercado que promovam a cura parasitológica dos animais infectados, ou seja, que possibilitem eliminar por completo o parasitismo dos cães acometidos, mas apenas controlá-lo, com possibilidade de assim amenizar as manifestações da doença.

“Dessa forma, o papel do médico-veterinário no combate à LV é importante para a saúde pública do país, pois é ele o responsável por orientar a prevenção da doença canina, e monitorar e controlar a carga parasitária de cães infectados, acompanhar a evolução clínica do animal e tratá-lo em caso de recidiva, além de auxiliar no monitoramento do número de animais acometidos na região para o controle epidemiológico da enfermidade”, pondera.

A LV é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das doenças mais negligenciadas do mundo (Foto: reprodução)

Por que devemos vacinar os cães contra a LVC?

A imunização objetiva o estímulo da resposta imune do cão considerada protetora contra a infecção (resposta celular ou Th1), podendo gerar uma proteção individual de até 92 a 96% ao animal imunizado, conforme estudo de fase III realizado, mas como qualquer vacina, ainda é possível que os cães vacinados sejam infectados e se tornem portadores do protozoário.

“Mesmo nestes casos, o diferencial entre um cão que foi vacinado e depois contraiu a doença e um animal infectado sem ter sido vacinado, é que o indivíduo que já foi imunizado previamente e que não respondeu de forma plenamente satisfatória à imunização, ou seja, eliminando a infecção, em geral desenvolve menos manifestações clínicas e possíveis complicações devido à doença. Mais importante do que isso é que os cães previamente imunizados normalmente apresentam menor parasitismo tecidual, o que atua ativamente na redução das taxas de transmissão do protozoário por meio do vetor”, elucida. 

De acordo com Rossi, a vacina recombinante contra a LVC apresenta em sua composição um fragmento de DNA da Leishmania infantum (= chagasi) utilizado para obtenção em laboratório da proteína A2, que é a responsável pela resposta imunológica direcionada contra o parasita. “A elaboração da vacina contou com a parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a antiga farmacêutica Hertape Calier, e seu desenvolvimento aconteceu no Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia de Vacinas (INTCV), ligado à Fundação Oswaldo Cruz”, lembra.

A proteína A2 foi o primeiro antígeno identificado na Leishmania donovani, e o primeiro fator de virulência específico das formas amastigotas de Leishmania sp. “Anticorpos anti-A2 foram encontrados em amostras de soro de cães que apresentavam a infecção ativa da LV, e em menor número no soro de pacientes assintomáticos, fato importante para a indução da proteção contra a doença por meio da vacina”, compartilha.

Para o seu desenvolvimento foi necessário, segundo o profissional, além de muito estudo, testes experimentais de eficiência e segurança em diferentes níveis. “A fabricação de vacinas recombinantes exige rigorosos protocolos sanitários que atendam às Normas de Biossegurança e às Boas Práticas de Fabricação (BPFs). Para ser aprovada pelo Ministério da Saúde (MS) e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), e, posteriormente, liberada para o mercado, a vacina precisou passar por três fases diferentes de estudo, incluindo testes duplo-cego, onde nenhum dos tutores dos animais que participaram dos estudos sabia quais deles receberam a vacina”, expõe.

Vale lembrar que, até o momento, essa é a única vacina veterinária disponível no mercado brasileiro que passou por ensaios clínicos de fase III com resultados satisfatórios de segurança e eficácia, conforme disponíveis em literatura e chancelados pelos órgãos interministeriais (MS e MAPA) do governo.

Como funciona a vacina recombinante contra a leishmaniose?

A resposta imunológica desencadeada pela vacina, e que vai atuar na proteção do organismo do animal, caso ele tenha contato posterior com a Leishmania por meio da picada do flebotomíneo, é a resposta tipo 1, também conhecida como resposta celular (Th1). “É importante ressaltar que a vacina não impede a infecção pelo vetor, por isso, é sempre recomendado que a proteção seja reforçada por produtos inseticidas e/ou repelentes que previnam a picada dos mosquitos”, salienta.

Segundo o executivo, os dados mostram que a vacina contra a Leishmaniose protegeu um número significativo de cães em desenvolver a doença, e aqueles vacinados sintomáticos apresentaram um atraso neste processo e abrandamento das manifestações clínicas, se comparado aos animais não vacinados. “Ou seja, o intuito de promover o estímulo imune adequado e apropriado para eliminar o parasita ou ao menos reduzir as manifestações clínicas, reduzir o número de protozoários circulante no animal e controlar o ciclo de novas infecções, é indubitavelmente alcançado por meio da vacinação”, garante.

O que recomenda o Ministério da Saúde?

Rossi conta que o Ministério da Saúde reforça que o uso da vacina contra a LVC é indicado apenas para a proteção individual dos cães, não devendo ser aplicada em outros animais ou em humanos, e só devem ser vacinados animais assintomáticos com resultados sorológicos não-reagentes para a LV. “Reforça, ainda, que outras medidas (como uso de repelentes/inseticidas que atuem contra o vetor) devem ser adotadas em associação”, cita.

Por ser uma vacina recombinante e promover o estímulo predominante da resposta celular, os animais vacinados não-infectados pelo protozoário não apresentam sorologia positiva para a doença nos testes sorológicos convencionais disponíveis no mercado nacional. “Desta forma, é possível diferenciar os animais vacinados dos animais infectados, requisito do Ministério e que é importante para a campanha pública de controle da LV”, frisa. 

Nos últimos anos, Rossi lembra que vivenciamos uma busca acelerada por vacinas e tivemos mais clareza sobre como a imunização coletiva é importante. “A LV é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das doenças mais negligenciadas do mundo, e o nosso papel como promotores da saúde única é utilizar da melhor forma todas as ferramentas que temos disponíveis para combater ou reduzir os seus efeitos”, finaliza.

Fonte: AI, adaptado pela equipe Cães&Gatos VET FOOD.

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