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Clínica e Nutrição

Técnica com pele de tilápia trata lesões graves de córnea em cães e gatos

Na oftalmologia, matriz dérmica da pele pode restabelecer a visão de pets
Por Equipe Cães&Gatos
pele de tilápia trata lesões em córnea
Por Equipe Cães&Gatos

Desenvolvida no Ceará a partir de 2014 e ganhando destaque desde então em várias áreas da medicina, odontologia e veterinária, a pesquisa da pele de tilápia chamou atenção tanto no setor nacional quanto internacional.

E a mais recente e inovadora descoberta vem da Oftalmologia Veterinária. Capitaneada pela prof. Mirza Melo, coordenadora da área de Oftalmologia Veterinária da Pesquisa da Pele de Tilápia, uma nova técnica cirúrgica a utiliza para tratamento de lesões graves de córnea de cães e gatos, inclusive perfurações, restabelecendo a visão de mais de 400 animais ao longo dos últimos quatro anos.

Melo utiliza a Matriz Dérmica Acelular (MDAPT) da pele de tilápia na regeneração de úlceras e lesões graves de córneas de cães e gatos. As propriedades desse produto foram investigadas e testadas pela pesquisadora durante seu mestrado em Medicina Translacional no Núcleo de Produção e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da Universidade Federal do Ceará (UFC), sob orientação do prof. Dr. Odorico de Moraes, diretor do Núcleo, e com o apoio do coordenador Geral da Pesquisa da Pele de Tilápia, Edmar Maciel Lima Júnior. 

Ela recebe a Matriz Dérmica do NPDM, definida como uma “lâmina de colágeno puro”, e realiza as etapas experimentais de pesquisa no Centro de Olhos Veterinário, centro de atendimento veterinário exclusivamente oftalmológico do Ceará, que conta com uma avançada unidade de diagnóstico por imagem, auxiliando no acompanhamento dos resultados da pesquisa.

Resultados da pele de tilápia em queimados incentivaram pesquisadores a fazer o primeiro uso numa cadela da raça Shih-tzu, que apresentava uma perfuração grave no olho (Foto: reprodução)

O sucesso dos resultados chamou a atenção da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa), que convidou a pesquisadora para apresentar suas descobertas científicas no 42º Congresso Brasileiro da entidade, realizado em Fortaleza, em parceria com a unidade do Estado, entre os dias 24 e 26 de maio.

São esperados mais de cinco mil participantes de todo País no Centro de Eventos do Ceará. Serão três palestras: enfocando o uso da membrana derivada da pele de tilápia em lesões corneais em cães e gatos; as propriedades biotecnológicas do produto, como enxerto; e o papel da matriz dérmica, também denominada scaffold, no restabelecimento da saúde ocular dos animais com úlcera de córnea. 

Segundo a médica, a Matriz Dérmica é rica em Colágeno Tipo 1,principal substância para reparo de vários tecidos e funciona como um arcabouço, estimulando produção celular em áreas lesionadas: “E é por meio desse produto, obtido a partir de um longo processo laboratorial de remoção das células do peixe, que migram os elementos da cadeia da cicatrização da pele”.

Ela informa que a úlcera de córnea é a patologia mais recorrente nos atendimentos em consultório e, em muitos casos, o seu tratamento depende de cirurgia. Antes da membrana da pele de tilápia, era necessário recorrer às membranas biológicas comerciais, que são importadas e têm elevado custo. 

“A Oftalmologia ressentia-se da falta de uma membrana eficiente, de fácil aquisição e baixo custo”, enfatiza, lembrando que a Matriz deriva de um refugo da indústria pesqueira, de um peixe de fácil adaptação e largamente cultivado na região, o que minimiza os custos de produção.

Mirza Melo pontua que a regeneração ou reepitelização da córnea assemelha-se à recuperação da derme afetada por queimadura e foi a utilização da pele de tilápia liofilizada (desidratada, esterilizada, irradiada com raios gama e embalada a vácuo), desde 2018, como curativo biológico no tratamento de queimaduras, que desencadearam seus experimentos na área da Oftalmologia Veterinária. 

“Os resultados em queimados nos incentivaram a fazer o primeiro uso, em 2019, numa cadela da raça Shih-tzu que apresentava uma perfuração grave no olho. Havia uma expectativa grande de entender como o enxerto se comportaria no ambiente ocular. Nos deparamos com fácil manuseio no transcirúrgico, ausência de complicações no pós-cirúrgico e ótimo resultado cicatricial, com manutenção da visão da paciente e dos parâmetros oftálmicos de saúde”, explica.

De acordo com ela, a Matriz mostrou uma capacidade superior em reparar lesões corneais em menor tempo e sem contaminações, resultando numa córnea mais transparente e lubrificada, que outros produtos já  disponíveis e comercializados. 

Além disso, acrescenta: “A recuperação, em muitos casos, é mais rápida que outras técnicas cirúrgicas e não requer curativos ou esforços exaustivos dos tutores, porque os animais não apresentam dor ou incômodos, e não há episódios de rejeição por parte do paciente”. 

A pesquisadora compartilhou esses resultados no Congresso Brasileiro de Oftalmologia Veterinária em 2022, em Foz do Iguaçu (PR), quando alcançou o prêmio de Melhor Trabalho do evento, despertando inclusive o interesse de especialistas na área.

Não obstante o sucesso dos resultados já obtidos e considerados bastante promissores na área da Oftalmologia, ela ressalta que “ainda estamos descobrindo o quanto a Matriz Dérmica tem a agregar e contribuir na rotina de várias especialidades”. 

O produto vem sendo produzido e aperfeiçoado pela equipe de pesquisadores do NPDM; o Centro de Olhos Veterinário segue como base da pesquisa no ramo da Oftalmologia Veterinária, com a médica à frente, e com perspectivas de estar disponível, brevemente, aos profissionais da área, conforme o Coordenador Geral da Pesquisa. “Um passo importante está sendo dado”, segundo Mirza Melo, com a organização de um estudo multicêntrico, que conta com a participação  de renomados  profissionais da Oftalmologia Veterinária de vários países da Europa e América do Norte. Algo que, no seu entendimento,“vai enriquecer e fortalecer os nossos estudos”.

Fonte: Anclivepa, adaptado pela equipe Cães e Gatos VET FOOD.

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