- PUBLICIDADE -
Inovação e Mercado

Estudo revela impactos psicológicos na vida de médicos-veterinários

Pesquisa foi conduzida pela acadêmica Nakaely de Souza Borges, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), sob a orientação da veterinária e professora Vanessa Bonfim da Silva
Por Cláudia Guimarães
saúde mental
Por Cláudia Guimarães

Saúde mental é algo que todos nós, enquanto seres humanos, temos que priorizar em nossas vidas. Mas, já apontamos por aqui que os médicos-veterinários estão entre os profissionais que mais sofrem com burnout, fadiga por compaixão, entre outros problemas de saúde mental.

O índice é tão alto, que motivou a graduanda do 10º semestre em Medicina Veterinária, pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB, Campus IX – Barreiras), Nakaely de Souza Borges, a escolher como tema de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), intitulado “Os desafios psicológicos enfrentados por Médicos-Veterinários: uma revisão de literatura”.

Na opinião da autora do artigo, existe uma pressão social muito grande sobre médico-veterinário e sua aparência social em ser “um profissional perfeito” (Foto: reprodução)

O estudo, orientado pela médica-veterinária, mestre e doutora em Ciência Animal nos Trópicos, pela UFBA, e professora auxiliar na UNEB, Vanessa Bonfim da Silva. Na visão da docente, falar sobre saúde mental dentro da Veterinária não é algo confortável. “Principalmente, pelo estereótipo do profissional ser taxado como alguém com um problema de saúde mental. Muitos colegas vão ficar receosos pelo seu emprego, pelos tutores dos animais; no caso de professores universitários, os colegas e os alunos. Outro aspecto, também, é o não reconhecimento de que o profissional está passando por um problema de saúde mental. A saúde mental é mais do que apenas a ausência de doenças, envolve um estado de completo bem-estar físico, mental e social e o reconhecimento de que algo não está bem é difícil para quem está passando pelo transtorno/doença”, avalia

Na opinião da autora do artigo, existe uma pressão social muito grande sobre médico-veterinário e sua aparência social em ser “um profissional perfeito”. “Alguns acreditam que demonstrar sinal de fragilidade emocional, pode gerar um sentimento de humilhação e ‘fraqueza’ que não deveria acontecer com esse tipo de profissional, no pensamento da sociedade em geral, sem conhecimento sobre o tema”.

Mais sobre a pesquisa

No estudo elaborado por Nakaely e orientado por Vanessa, ambas buscaram entender como a Literatura Nacional e Internacional abordam a questão da saúde mental na Medicina Veterinária, os possíveis achados descritos e como esses achados impactam na saúde mental dos profissionais. “Percebemos que existem poucos estudos publicados em periódicos científicos sobre a casuística no Brasil. No entanto, internacionalmente é um tema amplamente discutido e que traz dados relevantes e preocupantes para a nossa profissão, sendo que médicos-veterinários se encontram em situação de pressão constante, sendo, até mesmo, mais suscetível a desenvolver ou piorar enfermidades mentais já existentes do que outros profissionais da saúde”, mencionam.

No estudo elaborado por Nakaely e orientado por Vanessa, ambas buscaram entender como a Literatura Nacional e Internacional abordam a questão da saúde mental na Veterinária (Foto: reprodução)

A estudante conta que, conforme a pesquisa foi acontecendo, percebeu o quanto o tema é negligenciado no Brasil. “O que se observa é que existe um número muito alto de incidência de transtornos/doenças mentais na Medicina Veterinária desde a graduação e o tema não é abordado nas universidades. Relato, nesse aspecto, a minha dificuldade em conseguir orientação nessa temática. Eu percebi, ainda como graduanda, a relevância e o impacto que essa questão tem nos estudantes universitários, no entanto, não tive, inicialmente, apoio para o desenvolvimento da pesquisa, pois muitos docentes se sentem desconfortáveis em abordar o tema e não se enxergam capacitados para tal. Mas o estudo precisa ocorrer e necessita partir da universidade, talvez em uma parceria com psicólogos, mas é extremamente necessário”, pondera.

A orientadora Vanessa cita que o estudo revelou dois grandes impactos. “O primeiro, foi descobrir os transtornos que médicos-veterinários podem desenvolver pela atuação exaustiva, como estresse, ansiedade, fadiga por compaixão, síndrome de Burnout, depressão e em casos mais graves o suicídio. Nesse último, veio o segundo impacto: encontrar estudos na literatura em que foi observado que o número de óbitos decorrentes de suicídio é quatro vezes maior em veterinários do que na população em geral e duas vezes maior que outros profissionais da área da saúde”, indica.

A partir desse dado, Nakaely acredita ser surpreendente o tema não ser amplamente discutido no Brasil, sobretudo envolvendo pesquisas científicas, enquanto internacionalmente há, pelo menos, 10 anos essa temática vem sendo abordada. “Em um estudo realizado na província de Ontário, Canadá, os pesquisadores observaram que dentro das profissões com maior índice de pressão e estresse, a Medicina Veterinária é a que tem maior taxa média de suicídios, sendo que no referido estudo, foram entrevistados 11.627 veterinários, e destes 17% já tiveram ideação suicida e 1% já tentaram suicídio”, cita.

Preparando os profissionais para o mercado

Na visão da docente e da acadêmica, as instituições de ensino devem fornecer apoio aos estudantes de graduação desde o seu ingresso nas universidades, promovendo acompanhamento psicológico e práticas integrativas com os docentes, com a finalidade de formação desse público para que aprenda a identificar esses transtornos e estimular os discentes a procurar tratamento. Além disso, as universidades devem promover a curricularização de disciplinas voltadas ao suporte psicológico dos discentes e nesse aspecto, tanto discentes de graduação quanto pós-graduação, na opinião das entrevistadas.

A saúde mental engloba doenças silenciosas e que está vitimando muitos profissionais da classe (Foto: reprodução)

Com base no estudo realizado, Vanessa e Nakaely dão algumas dicas importantes para que os médicos-veterinários mantenham sua saúde mental em dia: “Reconhecer suas limitações, sem medo de ter autocompaixão, e buscar ajuda profissional precocemente são ações essenciais. Ter a atenção voltada e focada para o presente momento, práticas de relaxamento, como ioga e meditação e grupos de apoio, para conversas e trocas de experiências”, recomendam.

Para Vanessa, saúde mental é um assunto relevante tanto em números como em fatos e, infelizmente, engloba doenças silenciosas e que está vitimando muitos profissionais da classe. “Precisamos fomentar a temática, nos preocuparmos e, acima de tudo, tomar atitudes para minimizar a casuística dentro dessa linda profissão”, frisa.

Discussões sobre o tema, na visão de Nakaely, são bem-vindas tanto para médicos-veterinários quanto para a sociedade em geral. “Servem para os tutores entenderem os problemas que esses profissionais podem enfrentar e contribuírem não se tornando um fator desencadeador desses transtornos/doenças”, conclui.

FAQ

Por que a saúde mental é uma preocupação tão importante para médicos-veterinários?
Estudos mostram que esses profissionais têm uma incidência elevada de transtornos como burnout, fadiga por compaixão, depressão e, em casos graves, taxas de suicídio até quatro vezes maiores que a população em geral. O tema é negligenciado no Brasil, mas já é amplamente discutido em outros países.

O que pode ser feito para melhorar o suporte psicológico para estudantes e profissionais da Veterinária?
As universidades podem oferecer acompanhamento psicológico desde o ingresso dos estudantes, além de incluir disciplinas voltadas ao suporte emocional.

Quais são as recomendações para que veterinários mantenham sua saúde mental em dia?
Os profissionais devem reconhecer suas limitações, sem medo de buscar ajuda precoce. Práticas como ioga, meditação e a participação em grupos de apoio podem ajudar a aliviar o estresse e promover o bem-estar.

LEIA TAMBÉM:

Psicóloga alerta sobre fatores estressores na rotina de médicos-veterinários

Psicóloga dá dicas de como lidar com o luto ao perder um animal de companhia

Saúde mental dos pets ganha destaque com campanha Janeiro Branco


Compartilhe este artigo agora no

Siga a Cães&Gatos também no