A presença feminina na Medicina Veterinária tem crescido cada vez mais ao longo dos anos, e as médicas-veterinárias vêm ocupando funções importantes e transformando o mercado, não apenas na clínica, mas, também, no cenário acadêmico, por exemplo. Portanto, neste Dia Internacional da Mulher, escolhemos a médica-veterinária, professora titular do Instituto Biomédico, da Universidade Federal Fluminense (UFF), Rita Leal Paixão, como personagem para destacar suas conquistas, desafios e contribuições para a pesquisa, o ensino e o avanço da Medicina Veterinária.

Rita compartilha que a Medicina Veterinária foi uma escolha desde sempre, isto é, desde a infância já dizia que queria ser veterinária, motivada pelo amor aos animais. “Também gostei muito da Filosofia quando tive contato, ainda no colégio. Porém, foi depois de iniciar meu trabalho no campo da Bioética que percebi que a Filosofia complementava a abordagem que eu gostaria de fazer – sobre como devemos tratar os animais e, então, resolvi cursar, também, Filosofia. De fato, ela é fundamental para trabalhar a questão da ética animal”, revela.
Segundo ela, ser professora da UFF também foi uma escolha precoce. “Desde o primeiro período do curso, pensei que gostaria de ser professora universitária. Quando cursei Fisiologia, me apaixonei pela disciplina e, ao final do período, já falei com o professor que gostaria de ser docente. Assim, iniciei monitoria na disciplina e, logo que me formei, tive a sorte de poder fazer um concurso”, narra.
Naquela época, abria concurso para professora auxiliar, ou seja, era possível fazer o concurso para, então, iniciar a carreira acadêmica. Rita conta que se dedicou ao máximo, pois era uma grande oportunidade de realizar o sonho de ser professora da UFF e foi aprovada em primeiro lugar. “Logo depois, fiz o mestrado, com o intuito de me tornar uma pesquisadora, porém, fiz o que era mais acessível na época. Porém, no doutorado, já escolhi o tema que realmente gostava e que se tornaria meu campo de atuação, pois foi no doutorado que iniciei meus estudos em Bioética”, complementa.
Assim, em sua visão, os maiores desafios foram, também, grandes oportunidades, visto que trabalhou com áreas que estavam iniciando no Brasil, tais como a Bioética e o Bem-Estar Animal. “Nesse sentido, os maiores desafios estavam associados a demonstrar a importância desses temas e inseri-los na Academia, mas também permitiram maior visibilidade por serem novidades necessárias”, observa.
A Academia agradece!
Rita Leal Paixão acredita que sua grande contribuição para a Academia, até o momento, foi a própria tese de doutorado – que, depois, se tornou livro – sobre a questão da ética em experimentação animal. “Embora essa questão já estivesse sendo discutida fora do país, no Brasil, ainda não havia um debate mais sério sobre o tema nos anos 90. A tese ‘Experimentação animal; razões e emoções para uma ética’ foi a primeira tese sobre ética animal no país, publicada em 2001, e permitiu uma grande visibilidade para o problema do uso de animais em experimentos. Com isso, fui convidada a falar em vários eventos e Universidades e a abordagem foi se ampliando cada vez mais”, declara.
Como a Bioética era, também, uma disciplina recente ou por iniciar em cursos da área da saúde, Rita conta que o tema da experimentação animal foi sendo inserido nesses cursos, após contatos com vários colegas da área da Bioética, que solicitavam bibliografia e orientações. “Penso que esse papel de expandir essas abordagens foi muito importante”, avalia.
Marcos na carreira

A profissional teve a oportunidade de oferecer a primeira disciplina de Bem-Estar Animal em um curso de pós-graduação em Medicina Veterinária no Brasil. “Também, a oportunidade de oferecer a disciplina de Bioética, em vários cursos de graduação como Ciências Biomédicas, Biologia, Medicina Veterinária, Ciência Ambiental e sempre incluindo a temática dos animais e ambiental”, cita.
Além disso, Rita gostou muito de ter participado da Comissão de Ética e Bem-Estar Animal do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). “Juntamente com colegas, entendemos que não devia mais ser permitido cortar as orelhas e a cauda dos cães apenas como procedimento estético e fazer isso, realmente, se tornou proibido para o médico-veterinário no Brasil. Além disso, tive a oportunidade de orientar estudantes brilhantes que, atualmente, também atuam em prol dos animais, além de outros posicionamentos e artigos que contribuíram para inserir uma cultura de maior atenção aos animais na Medicina Veterinária e na sociedade como um todo”, comemora.
Mulheres na ciência
A ciência e o ensino superior vêm ganhando cada vez mais mulheres. Essa mudança, na visão de Rita, é super positiva, pois traz novos olhares para o campo e novas formas de abordagem, além de ser uma questão de justiça para com as mulheres, dando-as a possibilidade de atuarem onde quiserem. “Certamente que ainda há desafios significativos, que não estão somente no campo da ciência e do ensino, mas em todos os campos de trabalho, pois, muitas vezes, as mulheres precisam conciliar jornada de trabalho e maternagem, o que realmente demanda muito e o mercado nem sempre reconhece isso. Além disso, ainda existe preconceito em relação a mulheres atuarem em algumas áreas”, pontua.
Às veterinárias que desejam trilhar uma carreira acadêmica e científica, Rita destaca que o mais importante é a certeza do que se quer fazer e seguir em frente. “Determinação, competência e persistência são palavras-chave para enfrentar qualquer desafio ou preconceito”, sinaliza.

Questionada sobre o que ainda precisa ser feito para garantir mais equidade de gênero na universidade e na pesquisa científica, Rita diz que há várias ações que podem ser feitas nesse sentido. “Nesse ano, o CNPq lançou a primeira edição do Prêmio Mulheres e Ciência, exatamente com o objetivo de valorizar e reconhecer a contribuição das mulheres para o avanço da ciência no Brasil. A premiação abrange três categorias: estímulo ( pesquisadoras com até 45 anos); trajetória (para cientistas com 46 anos ou mais); e mérito institucional (para instituições comprometidas com a equidade de gênero na ciência). Esse tipo de ação é bem importante para dar visibilidade ao que está sendo feito e servir como estímulo para outras mulheres”, frisa.
A profissional sentiu um enorme orgulho ao saber que a UFF ganhou no mérito institucional, isto é, foi reconhecida como instituição comprometida com a promoção da equidade de gênero, diversidade e pluralidade, já que vem implementando diversas ações inovadoras. “Algumas dessas ações incluem: políticas de apoio à maternidade em seus editais, promoção da paridade de gênero em cargos de decisão, enfrentamento às violências de gênero contra mulheres, criação de uma Comissão Permanente de equidade de Gênero. Enfim, não basta reconhecer a importância das mulheres na ciência, são necessárias ações concretas que viabilizem a permanência das mulheres na ciência e acredito que estamos nesse caminho”, finaliza.
FAQ
Como a Dra. Rita Leal Paixão iniciou sua trajetória na Medicina Veterinária?
Desde a infância, ela já dizia que queria ser veterinária. Seu interesse pela Filosofia surgiu depois, e foi essencial para seu trabalho na Bioética e na ética animal.
Qual foi a principal contribuição da Dra. Rita para a Academia?
Sua tese de doutorado sobre ética na experimentação animal foi pioneira no Brasil e ajudou a ampliar o debate sobre o uso de animais em pesquisas.
O que pode ser feito para garantir mais equidade de gênero na ciência?
São necessárias ações concretas, como políticas de apoio à maternidade, maior presença feminina em cargos de decisão e programas de incentivo, como o Prêmio Mulheres e Ciência do CNPq.
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