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Inovação e Mercado

Educação continuada e pesquisa são estratégias essenciais, segundo profissional de renome da Endocrinologia Veterinária

Márcia Jericó, pioneira na área no Brasil, compartilha os desafios e os marcos de sua trajetória, inspirando novas gerações de veterinárias
Por Cláudia Guimarães
márcia
Por Cláudia Guimarães

Ser referência dentro da Medicina Veterinária exige mais do que conhecimento técnico. Os profissionais precisam ter dedicação, atualização constante e compromisso com a saúde dos animais. Quando se trata da Endocrinologia, esse empenho é ainda mais crucial, já que a especialidade exige precisão no diagnóstico e tratamento de diversos quadros delicados. Um exemplo de bom profissionalismo na área é a médica-veterinária, mestre em Fisiologia, pelo Instituto de Ciências Biomédicas, da Universidade de São Paulo (USP), e doutora em Clínica Médica, pela FMVZ-USP, Márcia Marques Jericó. Ela é uma de nossas personagens neste Dia Internacional da Mulher porque foi a pioneira na Endocrinologia Clínica de cães e gatos no Brasil.

No início de sua carreira, não havia profissionais ou ambientes acadêmicos que oferecessem soluções ou aprendizado para as questões que Márcia abordava (Foto: divulgação)

Márcia comenta que a Endocrinologia, básica e aplicada, sempre a fascinou. “É impressionante o poder das glândulas endócrinas e dos seus produtos de secreção, os hormônios, sobre os vários sistemas orgânicos, influenciando a endócrina, o crescimento e desenvolvimento, a manutenção do meio interno, além de sustentarem a produção, armazenamento e utilização de energia. Esta miríade de ações torna as manifestações clínicas das endocrinopatias extremamente variadas, o que é desafiador e instigante para o profissional da saúde”, opina.

Como já mencionado, Márcia é considerada como a pioneira na Endocrinologia de cães e gatos no Brasil, visto que, no início de sua carreira como médica-veterinária contratada do Hospital Veterinário da FMVZ-USP, não havia profissionais ou ambientes acadêmicos que oferecessem soluções ou aprendizado para as questões que ela abordava. “Um marco desta busca foi o atendimento e a posterior adoção de um cão Pastor Alemão com Hipossomatotropismo Juvenil, ou Nanismo Hipofisário, doença que era rara e sem solução naqueles tempos, visto que exigiria a reposição de GH canino e não havia esta possibilidade terapêutica em nosso meio veterinário, nem de outras modalidades de tratamento. Tive que buscar as respostas na Medicina Humana, onde fui muito bem recebida pelo serviço de Endocrinologia da FM-USP, liderado pela Dra. Berenice Bilharinho de Mendonça, que me orientou sobre a possibilidade de obtermos GH canino, a partir de hipófises de cães, tecnologia dominada pelo IPEN, sob a tutela da Dra. Irene Schwartz”, relembra.

Em resumo, Márcia levou a sério esta tarefa e conseguiu tratar aquela paciente (que tinha se tornado sua, com o nome Tutuca). A partir daquele GH obtido, fiz desta pesquisa meu Mestrado na FMVZ-USP, graças ao acolhimento do inesquecível Prof. Carlos Eduardo Larsosn, e me tornei uma “endocrinologista” na nossa comunidade veterinária, sendo constantemente procurada para opinar, diagnosticar e tratar as diversas endocrinopatias encontradas em nossa rotina, desde então”, menciona.

Em relação aos maiores desafios ao longo da minha carreira, Márcia afirma que aquilo que a maioria das pessoas considera como desafios, como preconceitos em relação à condição de ser mulher e mãe, por exemplo, não enfrentou. “Se enfrentei, nem percebi”, adiciona.

Mas ela cita o que considera desafiador ao longo de sua carreira: “Despertar atenção dos colegas veterinários para as doenças endócrinas em cães e gatos, em especial a Obesidade e as Dislipidemias; padronizar e comparar imunoensaios a serem utilizados nas determinações hormonais destas espécies; cofundar, juntamente com a médica-veterinária Flavia Tavares (RJ), a Associação Brasileira de Endocrinologia Veterinária (ABEV), em 2010, junto à outros 13 colegas veterinários entusiastas e admiráveis, foram os grandes desafios, sem dúvida nenhuma. E extremamente gratificantes foram as suas superações”, assegura.

Outro desafio significativo em sua carreira, segundo ela, foi a formação e capacitação de profissionais, por meio da criação da MV Minds Educação Continuada e Pesquisa, e do curso de pós-graduação em Endocrinologia Veterinária, pela Equalis Medicina Veterinária, ambas iniciativas em parceria com a médica-veterinária Viviani De Marco. “Como coordenadoras desses programas de Educação Continuada e de pós-graduação, enfrentamos a responsabilidade de preparar veterinários para lidar com as complexidades das doenças endócrinas, garantindo que estejam aptos a oferecer um atendimento de qualidade aos animais”, conta.

Destaque da carreira

Márcia Jericó foi uma das editoras do “Tratado de Medicina Interna de Cães e Gatos”, de grande relevância para a Medicina Veterinária (Foto: reprodução)

O momento mais marcante em sua trajetória, na visão de Márcia foi ter sido uma das editoras do “Tratado de Medicina Interna de Cães e Gatos”, junto aos médicos-veterinários João Pedro de Andrade Neto e Marcia Mery Kogika, considerada uma obra de referência na Medicina Veterinária brasileira. “A primeira edição foi publicada em 2015, com 2.464 páginas, e contou com a colaboração de mais de 250 renomados profissionais de diversas especialidades, que representaram de maneira irrefutável a inteligência brasileira da Medicina Veterinária de Pequenos Animais. Em 2023, foi lançada a segunda edição, revisada, ampliada e atualizada, totalizando 2.672 páginas. Ambas as edições abordam temas como doenças dos sistemas cardiovascular, digestório, urinário, endócrino, respiratório, nervoso e reprodutivo; neonatologia; oncologia; toxicologia; nutrição; doenças infecciosas e parasitárias; imunologia e imunoprofilaxia; manejo e controle da dor; entre outros. Assuntos importantes, como responsabilidade profissional e medicina legal, também são apresentados com rigor científico, mas de maneira didática. Ressalte-se que a primeira edição desta foi ganhadora do Prêmio Jabuti, em 2015, na área da Saúde, tendo sido o primeiro livro veterinário nacional a alcançar este feito”, comemora.

Atuando em diferentes áreas, Márcia acredita que algumas palavras definem as maiores contribuições que obteve ao longo das atividades: oportunidade, resiliência e empatia. “Na docência, a possibilidade de educar novos talentos e de dar oportunidades àqueles que se destacam e aos que também têm dificuldades no aprendizado. Na gestão hospitalar, além de adquirir habilidades em liderança e administração, pude aprender como ser resiliente, desenvolvendo a capacidade de me adaptar e de superar desafios, tentando ser firme diante de dificuldades, e sempre em prol da comunidade de colaboradores que me acompanhavam. No consultório, aprendi a fortalecer a empatia e a comunicação com tutores e pacientes. Essa vivência integrada permitiu a minha evolução profissional e pessoal, equilibrando conhecimento acadêmico, prática clínica, gestão, sempre com um olhar ao próximo”, avalia.

Mulheres na Medicina Veterinária

A profissional observa que as mulheres vêm ocupando de forma crescente todos os setores de atuação profissional em qualquer segmento e a Medicina Veterinária é mais um destes nichos de mercado. “Enxergo esta mudança como natural e necessária. Como desafios, a necessidade, e a dificuldade de equilibrar a vida profissional com as demandas da vida doméstica, como ser mãe, esposa e dona de casa. Jornadas duplas e exaustivas de trabalho podem ser situações difíceis às mulheres. Isto me faz lembrar uma frase que já ouvi e que se aplica muito bem a esta situação: ‘Saímos cedo demais de casa e chegamos tarde demais no trabalho; saímos cedo demais do trabalho e chegamos tarde demais em casa’”, declara.

Às jovens veterinárias que desejam destaque na profissão, Márcia afirma que o conhecimento, o embasamento do saber são a maior força (Foto: reprodução)

Às jovens veterinárias que desejam trilhar um caminho de destaque na profissão, Márcia aconselha: “Estudar, estudar e estudar… O conhecimento e o embasamento do saber são a nossa maior força e ninguém pode tirar isso de nós. O caminho da nossa profissão é longo e árduo, até chegar ao reconhecimento da sociedade, de direito e monetário. E somente a demonstração inequívoca de que sabemos sobre o que estamos falando e de que sabemos o que fazer diante das circunstâncias pode nos levar a nos destacar em qualquer profissão, inclusive na Medicina Veterinária”, destaca.

E em relação a si própria, questionada sobre o que a motiva a continuar inovando e se dedicando à Endocrinologia Veterinária, Márcia assegura que é a paixão pelo tema. “A Endocrinologia é a ciência que estuda as glândulas endócrinas e seus produtos de secreção. E estes controlam, assim como os neurotransmissores, todas as funções orgânicas. Assim, seus desequilíbrios de excesso ou falta de produção repercutem de maneira multissistêmica e, portanto, multissintomática. As doenças endócrinas, portanto, apresentam sintomatologias diversas, bem como métodos de diagnóstico múltiplo e ferramentas diagnósticas das mais variadas, bem como terapias diversificadas. E são doenças crônicas, de modo geral, mas com bom prognóstico e longevidade, desde que devidamente identificadas e tratadas. Esta multiplicidade de características me fascina”, encerra.

FAQ

Por que a Dra. Márcia Marques Jericó é considerada pioneira na Endocrinologia Veterinária no Brasil?
Ela iniciou sua trajetória quando não havia profissionais ou ambiente acadêmico voltado à Endocrinologia de cães e gatos. Seu trabalho pioneiro no tratamento do Nanismo Hipofisário e sua pesquisa com GH canino abriram caminho para a especialidade no país.

Quais foram os principais desafios enfrentados em sua carreira?
Ela destaca a dificuldade de despertar o interesse dos colegas para as doenças endócrinas em pets, além da necessidade de padronizar exames hormonais e fundar a Associação Brasileira de Endocrinologia Veterinária (ABEV).

Qual conselho ela dá para as jovens veterinárias que desejam se destacar na profissão?
Estudar constantemente, pois o conhecimento é a maior força do profissional. Ela enfatiza que apenas uma base sólida de aprendizado permite o reconhecimento na Medicina Veterinária.

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