Esta é uma questão que, vez ou outra, desperta a curiosidade das pessoas. Afinal, o comportamento homossexual é ou não encontrado na natureza? E ele é uma exceção, ou é normalizado?
O preconceito acerca desse tema na sociedade, além de atrasar os estudos, gerou compreensões equivocadas. Um estudo publicado em 1999 mostrava que naquela época já haviam sido registradas mais de 1.500 espécies com comportamento homossexual, seja macho com macho ou fêmea com fêmea.
Mamíferos, insetos, aves, répteis, anfíbios… Todos esses grupos já tiveram registros estudados desse comportamento entre os animais. Um dos primeiros relatos científicos de comportamento homossexual entre animais na natureza ocorreu em 1834, na Alemanha.
Um cientista chamado August Kelch observou dois besouros-comuns (Melolontha hippocastani) machos em comportamento reprodutivo. Esse comportamento foi mal visto pelos cientistas que estudavam insetos na época, classificando a observação como “não natural” e até mesmo como “horrível”.
As hipóteses se resumiam, basicamente, em ideias de exceção e negatividade. Porém, nenhuma delas se sustentou – e, no decorrer do século 20, não paravam de surgir novos relatos desse comportamento na natureza, e em quase todos os grupos de animais existentes.
Em 1911, um explorador chamado George Levick, ao navegar pela Antártida, relatou o comportamento homossexual em pinguins-reis (Apenodytes patagonicus). Tanto nessa situação quanto na do besouro, as justificativas iniciais davam conta de que era um “erro” – ou seja, que o macho confundia outro macho com uma fêmea.
Essa ideia de “erro” de identificação perdurou por muito tempo, até que um estudo publicado em 2010 com essa mesma espécie de pinguim mostrou que 25% dos casais de pinguins-reis, em uma ilha, eram formados por pares macho-macho. Um número bem alto para se considerar um ato isolado e “errado”.
Hoje, existem tantos relatos bem documentados e estudados, que é impossível tratar como erro ou casualidade. O golfinho-nariz-de-garrafa (Thursiops sp), por exemplo, apresenta uma das maiores taxas de comportamento homossexual registradas, inclusive relatos de femêas-fêmeas.
A cobra-cadarço (Thamnophis sirtalis), serpente que ocorre na América do Norte, também foi registrada realizando sexo entre machos, assim como uma espécie de peixe chamada popularmente de barrigudinho (Poecilia reticulata), que apresentou registro de comportamentos homossexuais em laboratório.
O tema também foi estudado em primatas. Pesquisadores da USP divulgaram uma pesquisa com dois machos de macacos-prego (Sapajus xanthosternos), um jovem e um adulto, que foram filmados durante 15 minutos tendo relações sexuais.
Nesse caso, foi visto o ritual de acasalamento completo da espécie, desde a manipulação da genitália até a cópula alternada entre os indivíduos. Assim como foi identificado no caso dos golfinhos-nariz-de-garrafa, possivelmente esses animais estão estreitando laços entre os indivíduos, e um deles é um jovem, ainda sexualmente imaturo, mostrando que ele possivelmente entra no quesito de “treinamento” ao realizar esse ato.
Em chimpanzés bonobos, espécie viva com o parentesco mais próximo ao ser humano, o sexo faz parte da organização social dos animais. O sexo homossexual entre fêmeas nessa espécie inclusive é mais comum do que entre machos, sendo relatado diversas vezes em estudos, vídeos e fotos.
O nível de detalhe é tão grande que é possível afirmar que no sexo entre as fêmeas, elas chegam a ter orgasmos, através de fricção genito-genital. Os machos, quando se relacionam com outros machos, realizam massagens genitais e até mesmo sexo oral. A importância do sexo nessa espécie é muito grande, sendo responsável por aliviar tensão social entre os indivíduos do grupo e até mesmo pela reconciliação de indivíduos.
O resumo é que sim, existe, e é comum. São mais de 1.500 espécies registradas tendo esse tipo de comportamento. Se no século passado o preconceito tentou classificar a própria natureza como anormal, hoje sabemos que um pensamento desse é exclusivamente preconceituoso, ou apenas de negação cega da realidade.
O comportamento homossexual em animais é normal, comum. Segundo o dicionário, normal significa “de acordo com a norma, com a regra; comum. Que ocorre naturalmente ou de maneira habitual; natural, habitual”.
Temos todas as evidências possíveis para afirmar que o comportamento sexual no mundo animal é normal, queira você ou não.
Fonte: Ecoa UOL, adaptado pela equipe Cães e Gatos VET FOOD.
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