A visão e a saúde ocular dos animais são temas bastante discutidos entre os tutores de pets. Seja por conta das curiosidades, mitos e fatos que rolam por aí ou também sobre informações importantes para garantir o bem-estar do animal. Neste Dia da Saúde Ocular, vamos abordar as duas frentes: curiosidades e explicações relevantes sobre os olhos de cães e gatos.
Sobre a saúde ocular propriamente dita, a médica-veterinária Especializada em Oftalmologia Veterinária e Cirurgia de Catarata, sócia da Íris – Oftalmologia Veterinária e Especialidades, Juliana Barreto Lopes Rodrigues, comenta que os casos mais recorrentes no consultório são pacientes com Síndrome do Olho Seco. “Trata-se de uma associação de alterações em superfície ocular que promove evaporação mais rápida ou não aderência do filme lacrimal na córnea”, explica.
Também são comuns casos de alterações ciliares como: distiquíase, triquíase e cílio ectópico, que, segundo a profissional, são alterações nos cílios capazes de causar irritação e úlceras de córnea. “As próprias úlceras de córnea que podem ser superficiais ou profundas também acontecem com frequência, bem como glaucoma, uma doença neurodegenerativa associada ao aumento da pressão intraocular, levando à cegueira. Além disso, a catarata, alteração na lente ou cristalino, acontece frequentemente”.
De acordo com o médico-veterinário residente em Oftalmologia de Animais de Companhia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Lucas de Souza Viana, para perceber se há algum problema com os olhos dos pets os tutores precisam se atentar a sinais como: olhos fechados, piscadas excessivas, vermelhidão ocular e acúmulo de secreção ocular.
Mas como é feito o diagnóstico dessas doenças?
Lucas comenta que a Oftalmologia é uma especialidade clínico-cirúrgica e, hoje, com os avanços na Medicina Veterinária, os veterinários têm mais acesso a aparelhos portáteis.
“Cito como exemplo lâmpada de fenda, tonômetro, lentes de aumento, ultrassom ocular, tomografia de coerência óptica, microscopia especular e retinógrafo. Os avanços também são vistos na área cirúrgica como para tratar catarata, retinopexia, cirurgias a laser para glaucoma e técnicas avançadas de ceratoplastias”, enumera.
Assim, o veterinário menciona que o diagnóstico é realizado por meio de exame clínico e oftálmico completo. “Com o diagnóstico estabelecido, o tratamento dessas doenças pode ter um desfecho clínico ou cirúrgico”, revela.

Raças mais afetadas
Juliana destaca que pacientes braquicefálicos, que possuem focinho curto e a olhos mais expostos, acabam apresentando mais predisposição a alterações oculares.
“Eles possuem uma órbita mais rasa e maior exposição ocular. Sugerimos a todos e, principalmente, a raças como pug, bulldog e persa, que realizem uma avaliação preventiva anual com médico-veterinário especializado em Oftalmologia”, diz.
Na visão da profissional, a Medicina Veterinária tem avançado muito e os tutores também estão buscando cada vez mais por esse cuidado. “Isso nos força de forma positiva a buscar atualização constantemente para oferecer o que tem de melhor e efetivo nos tratamentos oculares. O pet é um membro da família e vemos, na rotina, a preocupação com a qualidade de vida deles e um envelhecimento digno”, observa.
Curiosidades sobre a visão de cães e gatos
Se você já se perguntou se os pets enxergam cores, Lucas afirma que sim: “Assim como nos humanos, a percepção de cor nos cães e gatos é de responsabilidade dos fotorreceptores cones. A principal diferença é que os humanos possuem três tipos de cones, enquanto cães e gatos possuem apenas dois tipos, o que não permite distinguir todas as cores”.
Mas, como destacado por Juliana, em compensação, eles apresentam uma melhor visão noturna que a gente. “Tanto os cães quanto os gatos possuem uma estrutura localizada atrás da retina chamada Tapetum lucidum (tapete brilhante). Ela tem a capacidade de amplificar a luz para os fotorreceptores, melhorando a visão noturna”, elucida.
E será que os gatos realmente enxergam melhor os movimentos do que os detalhes? Lucas declara que sim. “O uso do movimento é atribuído, principalmente, à retina periférica e ajuda na percepção de objetos. O detalhamento visual, ou acuidade visual, é menor em animais do que em humanos”. Juliana complementa trazendo a informação de que os gatos possuem um campo de visão mais amplo do que os humanos: enquanto o nosso é de cerca de 180 graus, o deles chega a 200 graus.
Lucas ainda comenta que os pets têm percepção de profundidade, capacidade que é refinada quando os campos visuais de ambos os olhos se sobrepõem. “De maneira geral, a distância e nitidez se correlacionam. A capacidade de resolução do sistema visual diminui à medida que a distância aumenta, sendo, aproximadamente, quatro vezes melhor no homem do que no cão”, aponta.
Como adicionado por Juliana, os cães e gatos apresentam-se como hipermétropes e acabam se adaptando melhor a uma visão em movimento e a distância. “Com o envelhecimento, assim como os humanos, podem apresentar presbiopia ou má adaptação focal pelo cristalino e zôniulas lenticulares e sofrer por catarata, que também pode ser corrigida por cirurgia e implantes lenticulares”, reitera.
Os profissionais concluem que entender como os pets enxergam o mundo ajuda os tutores a cuidar melhor deles e a respeitar ainda mais suas particularidades e necessidades.
REFERÊNCIAS
BYOSIERE, S.E., CHOUINARD, P.A., HOWELL, T.J. et al. What do dogs (Canis familiaris) see? A review of vision in dogs and implications for cognition research. Psychon Bull Rev 25, 1798–1813 (2018). https://doi.org/10.3758/s13423-017-1404-7.
MAGGS, D. J. et al. Fundamentos de oftalmologia veterinária de Slatter . Elsevier Health Sciences, 2013.
SAFATLE, A.M.V.; GALERA, P.D. Oftalmologia veterinária: clínica e cirurgia. São Paulo: Payá, 2023. 816p.
FAQ
Quais são os sinais de problemas oculares em pets?
Olhos fechados, vermelhidão, secreção, piscadas excessivas e mudanças no comportamento visual podem indicar alterações oftálmicas.
Cães e gatos enxergam cores como os humanos?
Não. Eles veem menos cores porque têm dois tipos de cones (enquanto humanos têm três). Em compensação, possuem excelente visão noturna, graças ao tapetum lucidum.
Toda raça precisa de consulta com o oftalmologista veterinário?
Sim, mas raças braquicefálicas, como pug, bulldog e persa, precisam de atenção redobrada. O ideal é fazer avaliações oftalmológicas preventivas anuais.
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