Um estudo desenvolvido na Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal (SP) com parceria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) utiliza uma imunoterapia, que tem eficácia no combate ao câncer de bexiga em casos graves em humanos, em pacientes caninos com células cancerígenas.
O foco da pesquisa é utilizar o medicamento para combater o osteossarcoma canino, um tipo de câncer extremamente invasivo e com alta probabilidade de abranger outros órgãos, a chamada metástase. As pesquisas também englobam o melanoma oral, câncer que atinge a região da boca de forma bem agressiva nos cães.
“Normalmente, em literatura mundial, a cada quatro cães, um desenvolve câncer, ou seja, é muito grande”, conta a médica-veterinária, Noelia Talavera, sobre o índice da doença nos animais.
Ela realiza o estudo em seu doutorado, orientada pelo professor doutor Andrigo Barboza De Nardi. As pesquisas começaram em 2019, quando Noelia se mudou do Peru para o Brasil, e já ganharam destaque com o prêmio no 3° Congresso Latino-Americano de Oncologia Veterinária que aconteceu em 2022 no Uruguai.
“Nos casos do melanoma oral, o paciente tem sobrevida de um ano. Com a imunoterapia, a maioria dos pacientes passa desse tempo, atingindo dois anos. Com o osteossarcoma, que é uma neoplasia (câncer) mais difícil, ainda estamos conhecendo a dose que é mais efetiva para os cães e como que a imunoterapia, no caso, o Oncotherad, age inibindo e induzindo a morte dessas células cancerígenas”, conta Talavera.
Tratamento inédito no Brasil
O tratamento de imunoterapia chamado Oncotherad é o primeiro a ser feito na área de oncologia veterinária no Brasil. A especialista explica que o medicamento ajuda as células do paciente a reconhecerem as cancerígenas e a combatê-las por conta própria.
“Normalmente, para os tratamentos de câncer, sempre temos as opções de cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Só que muitas das neoplasias (câncer) chegam em um momento que a gente fica sem ferramentas para continuar no tratamento da doença, pela progressão”, relata a médica veterinária.
Como funciona o estudo?
Para fazer parte da pesquisa, os pacientes caninos que desenvolveram câncer naturalmente passam por uma avaliação a cada 21 dias. O tratamento comum com quimioterapia e, idealmente, com a amputação do membro acometido, para aqueles com casos graves, é adicionado à imunoterapia.
“Nos três primeiros meses, a aplicação é feita duas vezes por semana. Depois, é uma aplicação a cada 15 dias. Só que isso é muito individualizado. Sempre tiramos raio-x do pulmão a cada três meses, já que é uma neoplasia que faz metástase facilmente para o pulmão e para outros órgãos e tecidos ósseos também. Se ele passa um ano de sobrevida, então vamos espaçando os controles, de três meses passa para seis e de seis meses para nove meses”, explica Talavera.
A amputação é recomendada para que o tempo de sobrevida do animal seja maior. Noelia Talavera conta que os pacientes que não são amputados com osteossarcoma, por exemplo, têm um tempo de sobrevida de, no máximo, seis meses. Já os amputados com quimioterapia conseguem chegar pelo menos a um ano de sobrevida.
“Normalmente se espera fazer um tratamento prolongado durante o ano e quando passa de um ano de sobrevida é como uma vacina, temos que ajudar a fazer que essas células imunológicas relembrem que elas têm que estar sempre reconhecendo essas células neoplásicas. Então, as vacinas são aplicadas a cada 15 dias e depois trimestralmente”, explica Talavera sobre o tratamento.
Quais foram os resultados?
A médica-veterinária relata que o estudo conta com 13 pacientes com osteossarcoma, 16 pacientes com melanoma oral e já teve 15 pacientes com mastocitoma, câncer que acomete a pele.
Ela conta que, após quatro anos de testes, é possível notar que os pacientes com osteossarcoma que passaram pela cirurgia de amputação do membro acometido e acrescentaram a imunoterapia com o Oncotherad ao tratamento, tiveram um ganho de qualidade de vida maior, com o sistema imunológico mais competitivo.
“Já com o melanoma temos resultados mais palpáveis, porque percebemos que o tempo de metástase para o pulmão aumenta utilizando imunoterapia. Então, aqueles pacientes que não usam a imunoterapia, eles desenvolvem a metástase em menos de um ano. Com a imunoterapia é um ano e meio sem metástase pulmonar”, complementa Talavera.
Talavera também explica que os resultados da pesquisa podem ser utilizados de modo comparativo para complementar os estudos sobre a doença e seu tratamento em crianças.
“O cão é um caminho para tentar entender e compreender como um humano também pode desenvolver neoplasias (câncer). Então, por exemplo, na oncologia, eu estou focando um pouco na parte comparativa. Meu objetivo principal é trazer mais tempo para meus pacientes cães, mas esse resultado pode trazer benefícios para a criança, porque ela desenvolve o mesmo tipo de neoplasias”, afirma.
Fonte: G1 Ribeirão e Franca, adaptado pela equipe Cães e Gatos VET FOOD.
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