O Dia dos Povos Indígenas foi celebrado no dia 19 de abril, com diversas publicações e ações pelo Brasil. No entanto, cresce a urgência de proteger não apenas a herança cultural desses povos, mas, também, seus modos de vida, seus territórios e seus vínculos com os animais e a natureza.

Dentro de um contexto onde há inúmeros desastres ambientais, violação de direitos e crises humanitárias, o Grupo de Resposta a Animais em Desastres (GRAD Brasil) se apresenta como uma peça importante em diversas comunidades indígenas, promovendo saúde e bem-estar de forma integrada entre habitantes destes locais, natureza e animais domésticos.
Com iniciativas que unem atendimento veterinário, escuta ativa e respeito às tradições locais, o GRAD reforça, em sua atuação, o conceito de Saúde Única, que reconhece a interdependência entre saúde humana, animal e ambiental. Em regiões com acesso limitado a serviços essenciais, a relação entre o cuidado com os animais e o bem-estar coletivo se torna ainda mais clara: ao proteger os animais, protegemos, também, as pessoas e o território em que vivem.
Trabalho de destaque
O Brasil, com mais de 1,6 milhão de indígenas, abriga uma das maiores diversidades culturais do planeta, com 305 povos distintos e 274 línguas faladas. No entanto, a riqueza cultural dos povos originários está sob constante ameaça devido a invasões territoriais, garimpo ilegal, desmatamento e a negligência do Estado. A crise sanitária que atingiu os Yanomami em 2023 escancarou essa realidade: desnutrição, surtos de doenças e mortalidade infantil revelaram a gravidade do descaso.
Observando essa realidade, o GRAD desempenhou um papel importante e pioneiro: foi a única organização a levar médicos-veterinários até a Terra Indígena Yanomami, nas aldeias de Auaris e Olomai, em Roraima. Mais de 130 animais foram atendidos, com vacinação, vermifugação e tratamentos clínicos. Os profissionais também levaram insumos e realizaram ações educativas com foco na saúde multiespécie, respeitando a cultura e os conhecimentos locais.
Os animais fazem parte da rotina familiar em diversas comunidades indígenas e estão presentes na proteção, na alimentação e, até, na espiritualidade. Cães, gatos, galinhas e porcos convivem com as pessoas, criando um ambiente de interdependência. “Não se trata apenas de animais de estimação, eles são parte da vida, da identidade e da estrutura de cada aldeia. Cuidar deles é cuidar da aldeia como um todo”, afirma a equipe do GRAD.

O GRAD acredita que ignorar a saúde desses animais é comprometer, também, a segurança alimentar e sanitária das populações humanas. Por isso, suas ações vão além do atendimento clínico: pressupõem o diálogo com lideranças indígenas, valorização dos saberes tradicionais e a construção de soluções de forma colaborativa, sem imposições.
Uma operação em Apyterewa (PA), iniciada há mais de um ano e seis meses, é um dos exemplos mais complexos de atuação do GRAD. Após a desintrusão do território, com a retirada dos invasores, centenas de animais foram deixados para trás, entre eles, cães, gatos, bois, porcos, galinhas, búfalos, cabras e ovelhas. O GRAD foi acionado pelo IBAMA para realizar o resgate, tratamento sanitário e destinação responsável desses animais. Até o momento, mais de 300 já foram adotados.
De acordo com o médico-veterinário e membro do GRAD, que lidera a missão no território Parakanã, Hudson Lucas Moreira de Lima, a equipe enfrenta situações de sabotagem e riscos reais, como pneus furados, destruição de abrigos e até troca de tiros. “Mesmo assim, seguimos firmes. Castramos mais de 120 cães e 80 gatos, fornecemos ração de qualidade e medicamentos antiparasitários, recuperando animais que estavam em condições graves de subnutrição. Utilizamos as próprias casas abandonadas pelos invasores como abrigo para os animais, e o trabalho de adoção tem sido fundamental para dar um destino digno a eles”, compartilha.

Mais um episódio de destaque recente foi a ação realizada entre os dias 10 e 13 de fevereiro em Angra dos Reis e Paraty (RJ), em aldeias Guarani Mbya (Sapukai, Itaxi Mirim e Tekohá Dje’y), integrando o conceito de Saúde Única. A missão, liderada pela Fiocruz, UFPR e UFRRJ, contou com o apoio de diversas instituições, incluindo o CRMV-RJ e a Prefeitura de Curitiba. Foram aplicados protocolos sanitários em 156 animais, além de atendimentos emergenciais e coleta de amostras para estudo.
O GRAD Brasil mostra que é possível agir com ciência, sensibilidade e respeito, cuidando da vida em todas as suas formas. Porque proteger os povos indígenas é também proteger os animais, os territórios e o futuro do planeta.
Fonte: GRAD Brasil, adaptado pela equipe Cães e Gatos.
FAQ
O que é o GRAD Brasil e qual sua atuação com povos indígenas?
O GRAD Brasil é uma organização que atua levando atendimento veterinário e apoio emergencial a regiões afetadas por desastres, incluindo comunidades indígenas, com foco em saúde animal, humana e ambiental.
Por que cuidar dos animais é tão importante nas aldeias indígenas?
Porque os animais fazem parte da rotina, proteção, alimentação e espiritualidade das aldeias. Cuidar deles é essencial para a saúde e segurança de toda a comunidade.
Como o GRAD age em situações de emergência nas terras indígenas?
Com atendimento clínico, vacinação, castração, fornecimento de ração, ações educativas e adoção responsável dos animais, sempre respeitando os saberes e a cultura local.
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