A leishmaniose visceral canina (LVC), também conhecida como Calazar, é uma doença infecciosa transmitida por meio da picada de duas espécies de flebotomíneos, a Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi, também conhecidos como mosquito palha. Quem nos explica é a médica-veterinária intensivista do Hospital Veterinário Nouvet, Juliana Passarelli Reis.
A profissional relata que esses mosquitos preferem locais quentes e com alta quantidade de matéria orgânica. “O agente causador da LVC é um protozoário chamado Leishmania infantum/chagasi, que se infecta com a larva do parasita quando pica o hospedeiro mamífero”, discorre. Segundo ela, a transmissão ocorre quando o mosquito infectado se alimenta do sangue de outro hospedeiro. “É importante destacar que a doença não é transmitida diretamente de um cão para outro ou para humanos, pois depende da picada do mosquito”, adiciona.
Principais sintomas e diagnóstico
De acordo com Juliana, a LVC é uma doença complexa e desafiadora, pois nem sempre o cão apresenta sintomas. “No entanto, os sintomas mais frequentes incluem despigmentação, lesões alopécicas, ulceração de mucosas, onicogrifose, dermatites e hiperqueratose nasodigital. Podem ocorrer lesões renais graves, esplenomegalia e alterações hematológicas como anemia e trombocitopenia. Sinais clínicos como emagrecimento progressivo, fraqueza, anorexia e sintomas gastrointestinais também são comuns”, enumera.
Para diagnosticar a LVC, a veterinária conta que são utilizados métodos como ELISA e RIFI, realizados com amostras de sangue. “O método ouro é o parasitológico, que detecta o parasito nas formas amastigota ou promastigota em amostras de tecido”, elucida..
Prevenção e tratamento
Juliana destaca a importância da prevenção: “O uso de repelentes tópicos e coleiras têm eficácia comprovada contra o mosquito-palha. A vacina também é uma forma eficaz de prevenção”, menciona.
A profissional lembra que, desde 2016, a miltefosina é utilizada no Brasil para tratar a leishmaniose visceral canina. “Outras medicações, como marbofloxacino, alopurinol e domperidona, também são opções devido ao alto custo e efeitos adversos da miltefosina”, expõe.
O tratamento, no entanto, não cura a doença completamente. “O objetivo é reduzir a carga parasitária do hospedeiro. Ainda há necessidade de alternativas terapêuticas mais eficazes e acessíveis”, afirma a veterinária.
Impacto na Saúde Pública
Segundo Juliana, a LVC pode ser uma doença silenciosa em animais e humanos, e sua prevenção principal é combater o mosquito vetor. “A população brasileira, muitas vezes, não tem noção da gravidade dessa doença, que pode levar à morte. É fundamental que o Governo institua melhores condições de prevenção e divulgue mais sobre a forma de transmissão da leishmaniose, como foi feito com a dengue e a Covid”, avalia.
Ela ainda destaca que detectar o paciente portador da leishmaniose é um desafio diário para o médico-veterinário, devido à possibilidade de a doença ser assintomática. “Há necessidade de melhor controle por parte do Governo para a prevenção dessa doença”, reforça. Juliana também aborda a importância da educação e conscientização da população. “Nós, médicos-veterinários, podemos contribuir muito para a Saúde Pública, instruindo as famílias sobre a importância de repelentes, vacinas e hábitos de higiene”, salienta.
Por fim, na visão da veterinária, o segredo do sucesso no combate à leishmaniose e outras doenças é a prevenção. “Cada vez mais os animais são membros da família e convivem em sociedade, então, nada mais justo do que cuidar da sua saúde com a importância que merecem”, conclui.