A lipidose hepática felina (LH), também conhecida como fígado gorduroso, é uma síndrome causada pelo excesso de gordura no fígado dos gatos. Isso é o que explica a médica-veterinária com pós-graduação em clínica médica de pequenos animais e pós-graduanda em medicina felina, Marília Lemes da Silva.

De acordo com a profissional, a doença está relacionada a um elevado acúmulo de gordura nos hepatócitos, que são as células do fígado, e leva a um mau funcionamento do órgão.
Essa enfermidade pode ser classificada em primária ou secundária. A primária acomete principalmente gatos obesos e ocorre devido ao estresse exacerbado que, somado a falta de alimentação, causa diminuição de nutrientes e acúmulo de gordura no fígado (GRIFFIN, 2000).
Já a lipidose hepática secundária se desenvolve por conta de diferentes condições no metabolismo hepático, que favorecem o depósito exagerado de triacilglicerídios no órgão. Exemplos disso são obesidade, diabetes melittus, pancreatite, hipertireoidismo, hipotireoidismo e cardiopatia (EVANGELISTA et al., 2022).
“Animais adultos, que permanecem em jejum prolongado, obesos e/ou com doenças associadas são os maiores predispostos a essa doença. Porém, a causa também pode ser idiopática”, comenta Marília.
O jejum prolongado, inclusive, é um dos maiores vilões da LH. Segundo Silva, durante o período de privação alimentar o organismo usa a reserva de glicogênio hepático para a manutenção do organismo. Caso esse estoque não seja reabastecido, a insulina é recrutada na tentativa de manter a glicemia, o que leva a várias disfunções. “Quando isso ocorre, há acúmulo de ácidos graxos, alta oxidação hepática e, consequente, comprometimento de todas as funções do fígado no organismo”, esclarece.
Quais são os sintomas da lipidose hepática felina?

A lipidose hepática pode se manifestar de diferentes formas nos gatos. “Os sintomas mais comuns são apatia, hiporexia, que é a diminuição na alimentação, ou anorexia, que é a falta de alimentação, desidratação, vômitos, perda de peso, icterícia (pele amarelada) e constipação, ou seja, dificuldade em defecar”, cita a doutora.
Quando o quadro evolui para uma forma mais grave, que é a encefalopatia hepática, o animal pode apresentar uma depressão mental severa. Também é possível ver alterações de coagulação sanguínea causadas pela insuficiência hepática na síntese de diferentes fatores de coagulação ou insuficiência de vitamina K por anorexia (MASOTTI et al., 2016).
“Geralmente, o diagnóstico é feito com base no histórico do animal, nos sintomas apresentados e a partir da realização de exames de sangue e imagem, como bioquímicos e ultrassom”, comenta a profissional.
Marília explica que as principais alterações presentes nos exames bioquímicos de gatos com lipidose hepática são as elevações nas enzimas aspartato aminotransferase (AST), alanina aminotransferase (ALT) e fosfatase alcalina (FA). Já na ultrassonografia o fígado pode estar aumentado e com acúmulo de gordura.
Como tratar?
O principal objetivo do tratamento da LH é reestabelecer a nutrição do felino. “No início a alimentação pode ser realizada via sonda nasogástrica ou esofágica, caso o animal não aceite alimentação espontânea”, afirma a médica-veterinária.

Em conjunto deve ser realizado o tratamento suporte conforme os sinais clínicos do gato. Para isso pode-se fazer uso de antibióticos, protetores hepáticos e medicações para vômito. “Caso exista uma causa base para a anorexia e que tenha levado o animal a esse quadro, também é indicado diagnosticá-la e tratá-la”, esclarece Silva.
Com relação a alimentação, ela comenta que a dieta indicada para gatos com lipidose hepática deve ser rica em proteínas, moderada em lipídios e relativamente pobre em carboidratos.
O motivo disso é que dietas ricas em proteína possuem maior eficiência na diminuição do lipídio hepático, que está acumulado nos felinos com essa enfermidade, e ajuda a minimizar o catabolismo muscular nesses animais (EVANGELISTA et al., 2022).
REFERÊNCIAS
EVANGELISTA, Erik C. B. et al. Lipidose Hepática Felina – Revisão de Literatura. Revista Eletrônica de Medicina Veterinária da FAEF, Garça, v. 39, n.1, 2022.
GRIFFIN, B. Feline hepatic lipidosis: pathophysiology, clinical signs, and diagnosis. The Compedium on the Continuing Education for Practicing Veterinary, Auburn, v.22, n.9, p.847-858, 2000.
MASOTTI, C. et al. Lipidose hepática felina. Scientific Electronic Archives, p. 95-107, 2016.
FAQ
Como prevenir a lipidose hepática felina?
A prevenção da lipidose hepática felina é simples. Ela deve ser realizada a partir da oferta de uma alimentação de qualidade, controle de peso e check-ups regulares com um médico-veterinário para acompanhar a saúde do animal.
Após um animal ter lipidose hepática, quais os cuidados devem ser tomados para evitar recidivas?
Para evitar recidivas é importante acompanhar o gato de perto, observando se está se alimentando da forma correta, se não há perda de peso e nenhum outro sintoma que indique uma recidiva. Também é essencial ofertar uma dieta adequada e realizar o controle de peso.
Como tratar a lipidose hepática em gatos?
O tratamento da lipidose hepática felina deve ser definido pelo médico-veterinário, mas geralmente consiste em reestabelecer a alimentação do animal e tratar as alterações, que a doença pode causar no organismo do felino.
LEIA TAMBÉM:
Falta de apetite e anorexia são problemas comuns nos gatos
Veterinária comenta se gatos positivos para FeLV podem ter o apetite afetado
Lipidose hepática felina é uma das doenças mais comuns na clínica de felinos