Claudia Guimarães (SP) | claudia@dc7comunica.com.br
Felipe Machado (Redação) | felipe@dc7comunica.com.br
O médico-veterinário Alexandre Merlo abordou o tema “Uso racional de antibióticos na clínica” para os participantes do curso de Clínica Médica de Pequenos Animais, da XXXIV Semana Acadêmica de Medicina Veterinária (Sacavet), da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP), durante a manhã de 14 de abril.
O profissional explicou que é preciso identificar corretamente as infecções bacterianas. Mas como identificar? A maioria dos participantes respondeu: cultura e antibiograma. Mas antes disso, o veterinário afirmou que o exame citológico deve ser realizado. “Ele não nos dá gênero e espécie, mas fornece informações importantes sobre a bactéria que nos ajudam a direcionar o tratamento do paciente. Muitas vezes, deixamos de fazer o exame citológico que oferece resultado imediato e fazemos o de cultura, onde temos que esperar o resultado por alguns dias.
Merlo declarou que deve-se evitar o tratamento de infecções autolimitantes. “Por exemplo, em casos de infecções de pele vale a pena tentar o tratamento tópico somente. Além disso, existe uma indicação importante nas cirurgias. Quantos pacientes já vimos que passaram por uma cirurgia e receberam indicação de antimicrobiano no pós-operatório? Talvez estejamos abusando disso. Devemos dar uma oportunidade de o animal se recuperar sem o antimicrobiano, desde que seja, obviamente, bem acompanhado por um profissional”, frisou.
Mas se a palestra é sobre o uso de antimicrobianos e, até aqui, o palestrante destacou que eles devem ser utilizados com cautela, quando utilizar?
Segundo ele, em infecções já instaladas; em cirurgias longas, ou seja, mais de uma hora e meia; em introdução de implantes; cirurgia do sistema nervoso central; quebra óbvia de assepsia; cirurgia intestinal com risco de ruptura; procedimentos periodontais; feridas contaminadas.
“E em casos de feridas limpas, cirurgias curtas, ausência de infecção pré-operatória e ausência de contaminação durante a cirurgia não devemos utilizar os antimicrobianos”, salientou.
Ele ainda apontou que o momento mais importante de fazer a prevenção de infecção é durante os procedimentos cirúrgicos e nas primeiras horas após a operação. “Porque é o momento em que a pele, o abdômen os músculos estão expostos e sujeitos às bactérias”.

Merlo reforçou que o uso de antimicrobianos, especialmente quando feito de forma inadequada, excessiva ou desnecessária, pode favorecer a seleção de bactérias resistentes. “Isso acontece porque, ao entrar em contato com o medicamento, a maioria das bactérias sensíveis é eliminada, mas algumas, que possuem mutações ou mecanismos naturais de resistência, sobrevivem. Essas bactérias resistentes passam, então, a se multiplicar e ocupar o espaço deixado pelas sensíveis, tornando-se predominantes na microbiota. Com o tempo, isso pode levar ao surgimento de infecções mais difíceis de tratar, pois os antibióticos que antes eram eficazes deixam de funcionar. Esse processo é um dos principais fatores que contribuem para a resistência antimicrobiana, um problema de saúde pública global”, disse.
Mas, a partir do momento em que o veterinário escolhe utilizar antimicrobiano no paciente, o tratamento deve ser no alvo e é essencial armar uma “guerra curta”, eliminar a bactéria rapidamente.
“E é importante que o tratamento não dure tão pouco, mas nem muitos dias: para cistites agudas: 3 a 5 dias; cistites crônicas: 7 a 14 dias; prostatites: 4 a 6 semanas; pielonefrite: 10 a 14 dias; urolitíase por estruvita – até dissolver urólito (cães) 7 dias; piodermite superficial: 2 a 4 semanas; piodermite profunda: 4 a 6 semanas; dermatite úmida aguda: 7 dias; pneumonia: pelo menos 10 a 14 dias; diarreia responsiva a antibióticos: 2 a 4 semanas; micoplasmose hemotrópica felina: 3 semanas; erliquiose canina: pelo menos 4 semanas; infecções de tecidos moles e gastrointestinais simples: em geral 1 semana”, listou.
A Cães e Gatos segue acompanhando a cobertura da SACAVET 2025 em (SP), trazendo as análises e os destaques da XXXIV Semana Acadêmica de Medicina Veterinária.
FAQ – Uso Racional de Antibióticos na Clínica Veterinária
1. Quando o uso de antibióticos é realmente indicado em pequenos animais?
O uso de antimicrobianos deve ser reservado para casos de infecções já instaladas, cirurgias longas (mais de 1h30), introdução de implantes, procedimentos no sistema nervoso central, cirurgias com risco de ruptura intestinal, procedimentos periodontais e feridas contaminadas. Em contrapartida, eles não devem ser utilizados em feridas limpas, cirurgias curtas e situações sem infecção ou contaminação.
2. Qual o risco do uso inadequado de antibióticos em animais?
Segundo o médico-veterinário Alexandre Merlo, o uso excessivo ou inadequado pode levar à resistência antimicrobiana, um problema de saúde pública global. Isso ocorre quando bactérias resistentes sobrevivem ao tratamento, se multiplicam e se tornam predominantes, dificultando o controle de futuras infecções.
3. Como deve ser conduzido um tratamento com antibióticos para ser eficaz?
O tratamento precisa ser bem direcionado e ter duração adequada. Merlo defende uma “guerra curta e eficaz”, com doses corretas e tempo suficiente para eliminar a bactéria, sem prolongar desnecessariamente o uso. Por exemplo, cistites agudas exigem de 3 a 5 dias de tratamento, enquanto infecções mais complexas como piodermite profunda ou erliquiose canina podem exigir até 6 semanas.
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