Desde maio deste ano, o mundo enfrenta o maior surto da doença zoonótica conhecida como Varíola dos Macacos, causada pelo vírus Monkeypox, do gênero Orthopoxvirus e família Poxviridae. Até o momento, foram confirmados três casos da doença no Brasil, dois em São Paulo e um no Rio Grande do Sul, entretanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reporta quase 800 ocorrências em 27 países. A maior incidência está na África, na Europa e nos Estados Unidos.
O vírus foi descoberto em 1958 em um surto de macacos de laboratório infectados, de origem asiática, e, por isso, recebeu este nome. Na década de 1970 houve o primeiro registro de caso da doença em humanos, na África, e posteriormente foi controlada. Encontrado principalmente nas florestas tropicais da África Ocidental e Central, o vírus ocasionalmente pode ser identificado fora dessas regiões em pessoas que viajaram para as áreas onde ele é endêmico.
Apesar da nomenclatura da doença, a transmissão atual da doença ocorre por meio do contato entre humanos. De acordo com o presidente da Comissão Técnica de Médicos-veterinários de Animais Selvagens do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), Fabrício Braga Rassy, nos casos relatados até o momento não foi possível identificar local de origem da transmissão do agente causador da doença, tampouco o animal considerado reservatório na natureza, aquele que carrega o vírus sem apresentar sintomas clínicos.
Estudos indicam que o vírus teve origem em roedores silvestres e esquilos no continente africano. “É importante esclarecer que os primatas não são os agentes causadores da Varíola dos Macacos. No entanto, os primeiros casos notificados da doença foram em primatas, o que levou a denominação infeliz da doença, portanto, não representam uma ameaça à saúde humana”, enfatiza o médico-veterinário.
A presidente da Comissão Técnica de Bem-estar Animal do CRMV-SP, Cristiane Pizzutto, reforça que os macacos, em especial da fauna nativa, são tão vítimas quanto os humanos, pois podem ser infectados ao acaso. “Eles têm um papel importante de sentinelas, alertando os humanos sobre o avanço da doença”, explica a médica-veterinária, que atua com comportamento de primatas.
Rassy lembra que médico-veterinário tem papel primordial na orientação da sociedade sobre os aspectos relacionados à Saúde Única, por isso, deve conhecer todo o ciclo e mecanismo de ação de doenças zoonóticas. “Os profissionais podem ajudar na prevenção e auxiliar na diminuição de taxas de infecção, colaborando, assim, com a saúde pública”, diz.
Transmissão e prevenção
No geral, conforme informações da Organização Mundial de Saúde (OMS), a Varíola dos Macacos pode ser transmitida pelo contato com gotículas exaladas por alguém infectado (humano ou animal) ou pelo contato com as lesões na pele causadas pela doença ou por materiais contaminados, como roupas e lençóis. “A erupção cutânea, fluidos corporais (pus ou sangue de lesões na pele) e crostas são particularmente infecciosos”, explica Cristiane Pizzutto.
Úlceras ou feridas na boca também podem ser infecciosas, o que significa que o vírus pode se espalhar pela saliva. “As pessoas que interagem de perto com alguém que está infectado, incluindo profissionais de saúde, membros da família e parceiros sexuais, correm maior risco de infecção”, alerta a médica-veterinária. Uma medida para evitar a exposição ao vírus é a higienização das mãos com água e sabão ou álcool gel, e o uso de máscaras faciais.
A OMS ressalta, ainda, que dores de cabeça, nos músculos e nas costas também são alguns dos sintomas da doença. As lesões na pele se desenvolvem inicialmente no rosto para, depois, se espalhar para outras partes do corpo, inclusive genitais. O período de incubação costuma ser de seis a 13 dias, mas pode variar de cinco a 21 dias. Por isso pessoas infectadas precisam ficar isoladas e em observação.
Fabrício Braga Rassy explica que no passado já houve relato de positividade de transmissão da doença do ser humano para seus animais de companhia. “Atualmente, entretanto, ainda não há casos registrados”.
Recomendações
Apesar de, até o momento, não haver nenhum caso notificado em animais, é importante que médicos-veterinários estejam atentos aos casos suspeitos e preparados para reforçar a prevenção e o controle da transmissão da doença nas unidades de saúde públicas, privadas e em estabelecimentos veterinários. “Os roedores são considerados os mais suscetíveis ao vírus”, alerta Cristiane.
Segundo Rassy, os sintomas que os animais infectados podem apresentar são bem variados. “Podem ter febre, problemas respiratórios e de pele, como as vesículas que ocorrem em humanos”, explica.
A recomendação é de que os médicos-veterinários redobrem os cuidados nos atendimentos, utilizando sempre equipamento de proteção individual (luvas, máscaras e roupas de proteção descartáveis) e notifiquem casos suspeitos, a fim de evitar uma possível disseminação do vírus.
Fonte: CRMV-SP, adaptado pela equipe Cães&Gatos VET FOOD.
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