A leptospirose é uma doença infectocontagiosa de caráter zoonótico, ou seja, que pode ser transmitida tanto para animais quanto para os seres humanos. Seu agente etiológico é uma bactéria espiroqueta do gênero Leptospira, que existe em 20 espécies, divididas em diversas cepas. Isso é o que explica a médica-veterinária pós-graduada em infectologia veterinária, Tatiane Modesto.

“A principal via de transmissão é o contato com a urina de animais infectados. Os hospedeiros são espécies de animais domésticos, como cães, gatos, bovinos, equinos, suínos, e silvestres, sendo os ratos os reservatórios mais importantes”, esclarece a profissional.
Contudo, conforme a doutora, o sangue também pode ser uma via de transmissão, assim como solo, alimentos e, sobretudo, água contaminada oriunda de alagamentos. “A leptospira é capaz de penetrar as mucosas e a pele com ferimentos ou até mesmo íntegra através de poros que estejam dilatados”.
Além disso, nem sempre o rato é realmente um vilão. Modesto afirma que qualquer rato é um transmissor em potencial da leptospirose, mas nem todos eles vão fazer essa transmissão. Inclusive, o rato de esgoto (Rattus norvegicus) é o hospedeiro de maior relevância.
“Em resumo, quando um rato carrega o patógeno há chances de infectar outros animais, pois realiza a eliminação da bactéria na sua urina por longos períodos. Porém, isso depende da população de roedores, nível de exposição e ambiente em que os animais estão inseridos”, afirma.
Doença se manifesta de maneira diferente em cães e gatos
Segundo Tatiane, tanto os cães, quanto os gatos podem ser hospedeiros da leptospira, mas o organismo das duas espécies se comporta de jeitos diferentes. “Os gatos dificilmente manifestam a leptospirose, existindo raros casos relatados da doença nessa espécie. Mesmo assim, há a informação de que eles podem eliminar a bactéria na urina. Entretanto, isso ainda é incerto e não existem evidências do potencial risco de contaminação para outros animais”.
Por outro lado, a médica-veterinária relata que os cães possuem maior susceptibilidade à enfermidade e podem desenvolver sinais clínicos evidentes e formas graves da doença. “O cão acaba tendo um maior impacto no ponto de vista epidemiológico, visto que sabidamente eliminam o patógeno na urina quando infectados”.

Com relação aos sinais clínicos, a leptospirose pode se manifestar de diversas formas, exibindo maior ou menor gravidade conforme a resposta imunológica do organismo e o sorovar envolvido.
“Os principais sintomas da doença são falta de apetite, desidratação, vômito, diarreia com ou sem a presença de sangue, febre, dor muscular, hemorragias e urina de coloração escura”, elenca Modesto.
Como diagnosticar?
Para a profissional, o diagnóstico da leptospirose é determinado a partir dos sinais clínicos, histórico do animal e exames laboratoriais.
“Existem alguns exames que podem ser realizados, como cultura de urina, sangue ou tecidos e pesquisa molecular do material genético da leptospira (PCR). Entretanto, é preciso lembrar que podem acontecer falsos negativos na fase inicial de leptospiremia, que é quando a leptospira está circulante na corrente sanguínea, e na fase posterior de leptospirúria”, comenta.
Também existem os exames sorológicos que, conforme a doutora, são bem empregados. Um exemplo é o teste de micro aglutinação por microscopia de campo escuro (MAT), sendo esse recomendado como padrão para diagnóstico.
A leptospirose tem cura?
“A leptospirose é uma doença grave e de alta letalidade, mas que possui tratamento. O ideal é que o tratamento seja instituído rapidamente, inclusive em casos altamente suspeitos pelo histórico e sinais clínicos do animal. Dessa forma, se tem uma maior chance de cura”, comenta a profissional.
Ela esclarece que, normalmente, os cuidados envolvem internação para reposição de eletrólitos no sangue, manutenção da hidratação e controle dos sinais clínicos. Como a bactéria é causada por uma bactéria, são utilizados também antibióticos para a combater.
E a prevenção?

Tatiane afirma que a forma de prevenção mais eficaz para leptospirose em cães é manter a vacinação contra a doença sempre atualizada. O protocolo vacinal deve ser instituído de acordo com o risco de exposição e estilo de vida do cão. Para gatos não existe vacina.
“As vacinas que protegem da doença são as múltiplas ou polivalentes. Essas apresentam na sua formulação vírus vivos atenuados ou enfraquecidos e uma fração de sorovares de leptospiras inativadas/mortas”, comenta Modesto.
Ainda de acordo com ela, as vacinas inativadas têm, de um modo geral, uma duração de imunidade mais curta, garantindo duração de memória por até um ano. Porém, nem sempre o cão vacinado vai estar 100% protegido. Devido a isso, é preciso tomar mais alguns cuidados para prevenir a doença.
“Outras formas de prevenção importantes são acesso a saneamento básico, manter bons hábitos de higiene pessoal, evitar o contato direto com regiões de alagamentos e excesso de lama e higienizar adequadamente o local em que o animal costuma ficar”, finaliza a médica-veterinária.
FAQ
Um cão ou gato com leptospirose pode transmitir a doença aos seres humanos?
Como a leptospirose é considerada uma zoonose e o convívio dos seres humanos com pets é cada vez mais intenso, esses animais podem transmitir a doença aos seus tutores.
Quais cuidados devem ser tomados no manejo de animais com leptospirose?
Todo animal diagnosticado com leptospirose deve ser mantido em isolamento, seja em internação ou no ambiente domiciliar. Quando for necessário tocá-lo, é importante o uso de equipamentos de proteção individual, como luvas. O local onde o pet está precisa de higienização com produtos específicos a base de água sanitária ou amônia quaternária e é necessário evitar o seu contato com pessoas e outros animais.
Todo cão vacinado está 100% protegido de Leptospirose?
Por mais que a vacinação seja um método de prevenção considerado seguro, se um animal vive em um ambiente de alto risco, ele pode estar mais suscetível a desenvolver a doença mesmo com a vacina adequada. Devido a isso, em alguns casos é indicada uma frequência de imunização maior.
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