Demorou algum tempo, mas, com o passar dos anos, as concepções sociais e de gênero mudaram e as mulheres começaram a ocupar funções na sociedade. Hoje, no Dia da Medicina Veterinária Militar, trabalhamos esse enfoque, pois o assunto é muito importante e muito esclarecedor – mesmo que já estejamos em 2022.
Lá em 1992, inseriu-se pela primeira vez pessoas do sexo feminino no quadro do Exército Brasileiro. O fato histórico completou 30 anos no último abril. O mesmo ano ainda marcou o retorno dos médicos-veterinários de carreira a esta Força Armada. Isso porque, desde a extinção (na década de 80) da Escola de Veterinária do Exército, somente médicos-veterinários temporários desempenhavam esta função.
Em reportagem do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV-RJ) participam duas das primeiras médicas-veterinárias que entraram no Quadro Complementar de Oficiais de 1992, do Exército Brasileiro, que são: Coronel Joana Mara Carvalho de Carvalho (CRMV-RJ 4.309); e Coronel Beatriz Helena Felício Fuck Telles Ferreira (CRMV-RJ 8692).
Quando questionada sobre como foi integrar o Exército sendo mulher na área da Medicina Veterinária, a Coronel Beatriz Helena afirma que enfrentou muitos desafios. “Como foi a primeira turma [com mulheres], houve cobrança. Os instrutores sempre nos falavam: ‘Olha, o bom desempenho de vocês vai assegurar que continue tendo mulheres no Exército. Vocês são um laboratório, o Exército está experimentando e vocês precisam corresponder as expectativas’. Havia muita cobrança, mas foi uma grande honra e uma benção, foi uma fase muito boa”, relembra.
A Coronel Joana Mara compartilha que foi uma experiência única e muito desafiadora. “Compus a primeira turma com efetivo feminino do Exército e, com os problemas que fomos enfrentando, várias mudanças foram sendo implementadas, desde os uniformes até às atividades físicas”, menciona.
Importância dos veterinários dentro desta força
Beatriz declara que seu sonho quando entrou no Exército era trabalhar com equinos. “Eu monto desde criança e gosto muito de cavalos. Mas, na minha carreira, eu praticamente não trabalhei com cavalos, apesar do efetivo enorme de equinos no Exército em várias organizações militares. Eu atuei com a inspeção de alimentos, que era uma área que não tive interesse durante a faculdade, trabalhei porque houve essa demanda no Exército, mas graças a Deus foi um aprendizado muito legal e, no final, eu fui muito feliz. Também tive a oportunidade de trabalhar na Vigilância Sanitária da Força, com essa parte de segurança dos alimentos. Coroei minha carreira no Ministério da Defesa, trabalhando justamente com a Defesa Alimentar. Tive a oportunidade de me desenvolver profissionalmente, tive a chance de fazer um mestrado, fiz muitos cursos nessa área, fui muito feliz”, assegura.
Em sua visão, a Medicina Veterinária é indispensável para a força terrestre: “Pois se lida com grandes efetivos, com uma enormidade de alimentos manipulados, não tem a menor condição do Exército terceirizar esse serviço, então, precisamos formar os nossos quadros, capacitar o nosso pessoal para lidar bem com transporte, armazenamento, manipulação, preparo e distribuição de alimentos. Os médicos-veterinários foram talhados para isso, é fundamental nesse processo. Não é o único profissional que o Exército emprega na cadeia de suprimentos, mas são equipes multidisciplinares, há muito trabalho para fazer e toda ajuda especializada é muito bem-vinda. Sempre falo para os médicos-veterinários que estão começando suas carreiras que a clínica veterinária é linda, a gente adora animal, com certeza todo mundo que faz Veterinária, em algum momento, pensou na clínica, mas eu digo: pensem na inspeção de alimentos, porque todo mundo precisa comer várias vezes por dia e esse alimento precisa chegar seguro nas pessoas”, sugere.
Já Joana lembra que sua primeira unidade após a formação militar na antiga Escola de Administração do Exército, foi a Escola de Equitação do Exército, onde ficou até fevereiro de 1994. “Nesta OM, fui muito bem recebida, mas por ser, até o momento, um efetivo apenas masculino, minha chegada causou alguns transtornos, como alojamento e o culote feminino que não previram no Regulamento de Uniformes do Exército. Dentro da área da Medicina Veterinária, como minha especialidade era na clínica de equinos, não tive problemas em me impor, apesar de ser muito mais questionada que meus companheiros médicos-veterinários do sexo masculino. De 1994 a 1996, servi no extinto 14° Depósito de Suprimento, onde atuei na distribuição de material de saúde e veterinária para as Unidades da 1° Região Militar e para as Missões de Paz do Exército. Em março de 1996, fui transferida para o Instituto de Biologia do Exército, onde fiquei até janeiro de 2018. Nesta OM, fui Chefe da Divisão Veterinária, onde realizávamos a produção do plasma hiperimune equino, substrato dos soros antipeçonhentos ofidicos, aracnídicos e escorpionicos”, elenca.
A Coronel vê a profissão como de suma importância para o Exército Brasileiro: “Somos responsáveis pela higidez dos animais de emprego militar, pela inspeção dos alimentos distribuídos à tropa, pelo controle de vetores e do meio ambiente das Unidades do Exército e por integrar equipes de defesa biológica”, argumenta.
Como ingressar no Exército Brasileiro
Existem duas formas de entrar para o Exército Brasileiro. Uma para ser oficial de carreira, onde você presta um concurso a nível nacional, com prova de conhecimento específico da área de atuação, inglês, português, história e geografia, depois exame físico e médico. Sendo aprovado(a) em todos os níveis, são preparados na Escola de Saúde e Formação Complementar (EsFCEx), em Salvador, onde receberá a formação militar durante 10 meses, depois por classificação, pode ir para qualquer Organização Militar em todo o Território Nacional e ser transferido(a) durante sua carreira, podendo atingir o posto de Coronel .
A segunda forma é para Oficial Temporário, a nível das Regiões Militares, onde você se inscreve e tem uma prova de currículo e depois escrita, exame médico e físico. Sendo aprovado(a) será designado(a) para uma das Unidades Militares daquela Região Militar e poderá ficar no Exército por até oito anos.
Fonte: CRMV-RJ, adaptado pela equipe Cães&Gatos VET FOOD.
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