A frase “eu posso imaginar” pode cair bem em algumas situações, mas, quando se trata dos desafios emocionais que os médicos-veterinários lidam diariamente em seus atendimentos, só quem vive pode sentir. Então, nesse dilema, como esses profissionais lidam com o lado emocional para atender da melhor forma possível pacientes críticos?
Conversamos com o médico-veterinário Eric Prestes, que atende em Sorocaba, interior de São Paulo, e é indicado por muitas pessoas por conta de seu trabalho de excelência com pets em quadros complicados.
Para Prestes, os principais desafios que enfrenta durante os atendimentos são o peso da responsabilidade e a autocobrança, por querer salvar aquele animal a todo custo, mesmo sabendo que, em alguns casos, será impossível reverter o quadro. “Além disso, nosso trabalho é acompanhado pela frustração de não poder fazer mais do que já foi feito. Também há a pressão de lidar com a expectativa dos tutores, que, muitas vezes, estão em um misto de desespero e esperança, e acabam dificultando o atendimento”, compartilha.
O veterinário comenta que é bastante difícil separar o lado pessoal, com emoções, do profissional: “Mas isso é fundamental, principalmente, durante a emergência, para que as decisões sejam baseadas na lógica em vez de serem tomadas pelas emoções. Misturar os dois influencia diretamente na qualidade do tratamento e na saúde mental do próprio veterinário”, destaca e adiciona que uma decisão impulsiva ou errada vai interferir diretamente no desfecho do quadro.
Ele discorre que ter empatia pelo animal é essencial para entender a dor dele e do tutor, mas a tomada de decisão rápida é ainda mais importante para o sucesso do tratamento. “A prática e a experiência ajudam a desenvolver essa habilidade de equilibrar emoções e ações, permitindo que se permaneça focado no atendimento”, insere.
Apesar de todas essas dificuldades que, com certeza, a maioria dos veterinários encara, algumas estratégias podem ajudá-los a se manter focados tanto para manterem sua saúde mental em dia, quanto para poderem salvar os animais que recebem. “Existem várias técnicas que podem nos ajudar, desde a terapia de suporte psicológico, meditação, academia e, até mesmo, hobbies. Cada veterinário busca a forma que se sente melhor para lidar com esse processamento de emoções. Pessoalmente, gosto de sair com meus amigos e possuo, também, uma atividade de vôlei semanal, isso me permite ‘sair’ da rotina veterinária em alguns momentos para que eu possa entender melhor como estou”, revela.
Além disso, o trabalho em equipe e o suporte dos colegas de profissão podem ajudar o veterinário, de acordo com Prestes. “Trabalhar em equipe alivia a pressão e a cobrança excessiva pessoal. Sentir que tem um colega que pode te apoiar ou está ao lado para te ajudar naquele momento, faz a diferença. Cada veterinário tem seu conhecimento e sua experiência, quanto mais pessoas apoiando, mais confiantes ficamos de que iremos conseguir resolver o caso da melhor maneira, independente do que seja”, expõe.
Não ensinam na faculdade
Enquanto os tutores de pets acreditam que os veterinários devem trabalhar por amor, o o curso de Medicina Veterinária e o mercado cobram os profissionais para que sejam cada vez melhores. Isso é importante? Sim, mas a saúde mental, que deve vir em primeiro lugar para qualquer pessoa, independente da profissão, não é um tema muito abordado durante a formação desses clínicos.
Segundo Eric Prestes, o que vem como um ombro amigo são workshops e palestras sobre o tema fora da universidade. “Algumas faculdades também incluíram temas sensíveis como Burnout e Fadiga da Compaixão em suas aulas. Apesar disso, ainda acredito que o acompanhamento profissional e especializado é, ainda, o mais importante para ajudar a pessoa a entender qual a sua forma de lidar com a situação”, pontua.
Para evitar o esgotamento emocional, o veterinário afirma que é importante estabelecer limites e saber separar a vida pessoal da profissional. “É preciso dar uma pausa para conseguir digerir esse ‘excesso’ de emoções e informações que recebemos durante o trabalho. Aprender a reservar tempo de qualidade para si mesmo e buscar terapia quando necessário deve ser prioridade”, encerra.
FAQ
Quais são os principais desafios emocionais enfrentados por veterinários em atendimentos?
Os desafios incluem o peso da responsabilidade, a autocobrança, a frustração de não poder fazer mais, e a pressão de lidar com as expectativas dos tutores.
Quais estratégias ajudam os veterinários a manter a saúde mental?
Técnicas como terapia, meditação, hobbies, e atividades físicas como jogar vôlei ajudam a lidar com o estresse. O suporte de colegas e o trabalho em equipe também são essenciais.
Como a formação em Medicina Veterinária aborda a saúde mental dos profissionais?
Embora algumas faculdades incluam temas como Burnout e Fadiga da Compaixão, a saúde mental ainda é pouco abordada, e o acompanhamento profissional externo é considerado mais importante para lidar com esses desafios.
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