Cláudia Guimarães, da redação
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Saúde mental. Esse é um tema ainda encarado como tabu e marcado por estigmas em toda a sociedade. São muitos os casos de pessoas que se recusam a fazer qualquer tipo de terapia para a mente por mero preconceito. Entre os profissionais da Medicina Veterinária isso ainda pode existir, mas é possível observar certo avanço e busca pela proteção do bem-estar mental.
De acordo com a psicóloga com experiência na área de saúde mental na Medicina Veterinária, membro fundadora e presidente da Associação Brasileira em prol da Saúde Mental na Medicina Veterinária (Ekôa Vet), coordenadora do Núcleo de Saúde Mental Vet da Anclivepa-BR e coordenadora de projetos de Medicina Veterinária do IBCS, Bianca Gresele, é evidente que houve avanços nessa questão. “Não podemos negar que cada vez mais se discute sobre saúde mental, porém, a qualidade dessas informações também é crucial. Em um País como o Brasil, com realidades sociais tão variadas, muitos ainda não têm acesso adequado à informação. E, mesmo os que têm, podem se deparar com falsas informações disponíveis on-line”, acentua.
Surge, então, segundo ela, a questão de o assunto ainda ser um tabu em si, acompanhado de preconceitos, associando a saúde mental, como no passado, a pessoas que eram consideradas “loucas”. “É necessário, portanto, que a população, especialmente os profissionais de Medicina Veterinária, compreenda que, ao abordar esse tema, é fundamental buscar orientação de psicólogos e psiquiatras”, frisa.
Por experiência!
Como Bianca já tem desempenhado funções psicológicas na área da Medicina Veterinária há alguns anos, observa que a demanda por saúde mental está aumentando. “Os veterinários estão buscando mais conteúdo relacionado a esse tema e, de fato, estão mostrando interesse em participar de psicoterapia. Isso inclui a busca por psicólogos e, além disso, tenho notado um crescimento na ênfase dada à educação nesse contexto. Clínicas e hospitais estão procurando por treinamentos ministrados por psicólogos, abordando temas relacionados à saúde mental na área Veterinária. Também tenho observado um aumento no número de pós-graduações que incluem disciplinas ministradas por psicólogos. Inclusive, tenho ministrado aulas em algumas delas, abordando assuntos como saúde mental, processos de luto, comunicação de más notícias, entre outros”, enumera.
De maneira geral, a psicóloga acredita que a temática da saúde mental está gradualmente ganhando espaço dentro da profissão. “Os veterinários estão compreendendo a importância desse aspecto, embora ainda haja uma discrepância entre a compreensão teórica e a implementação prática. Acredito que estamos mais inclinados a discutir o tema do que a efetivamente aplicá-lo. É necessário que avancemos em direção a uma aplicação mais concreta. De toda forma, percebo perspectivas positivas nesse sentido. Estamos progredindo, mas ainda há um longo caminho a percorrer”, observa.
E Bianca ainda fala sobre o tópico tanto no âmbito veterinário, quanto em nível global: “É evidente que as taxas de doenças mentais têm aumentado. Isso é algo que vale ressaltar, considerando que, ao falar de um cenário mais amplo, estamos observando um aumento mundial nas taxas de doenças mentais. Algumas pesquisas já indicam, por exemplo, que as taxas de depressão ultrapassam as taxas de muitas doenças físicas. Consequentemente, estamos presenciando um aumento na prevalência de condições como depressão, ansiedade, burnout, transtorno do pânico, fadiga por compaixão, entre outras”, menciona.
Essa tendência não se restringe exclusivamente à Medicina Veterinária, como destacado pela profissional. “No entanto, é válido reconhecer que os profissionais que atuam na área da saúde e desempenham papéis de cuidadores estão, particularmente, suscetíveis a essas condições. Eles compõem um grupo que, geralmente, apresenta taxas mais elevadas dessas doenças”, revela.
A psicóloga também comenta que, antigamente, as pessoas buscavam ajuda psicológica quando já estavam enfrentando problemas de saúde mental e, agora, ela tem notado uma tendência em que as pessoas estão procurando terapia como uma medida preventiva. “Isso é essencial, pois a terapia desempenha um papel crucial na prevenção dessas condições”, confirma.
As principais queixas
Dentre os fatores estressores mais relatados por veterinários, de acordo com Bianca, destaca-se o desafio de equilibrar a vida profissional com a vida pessoal. “Além disso, lidar com a perda de pacientes e o processo de luto, assim como a difícil tarefa de comunicar más notícias, especialmente quando se trata de comunicar um óbito. Há, também, preocupações relacionadas à saúde financeira, como sustentar-se financeiramente, pagar despesas e alcançar independência nesse aspecto. Isso está ligado à valorização da profissão”, indica.
A realização de eutanásia, por vezes, também se apresenta como um pesado desafio enfrentado pelo veterinário, como dito por Bianca, uma vez que não há uma formação adequada para lidar com as complexas demandas emocionais inerentes a esse processo. “Além disso, surgem dificuldades na colaboração em equipe. Isso decorre da premissa equivocada de que os veterinários escolhem essa profissão para trabalhar com animais e evitar, se possível, interações com pessoas. Entretanto, como sabemos, a realidade é diferente. Na verdade, os veterinários estão entre os profissionais que mais interagem com pessoas, seja com os clientes, com a equipe interna ou, às vezes, até com profissionais de outras áreas”, expõe.
Melhor prevenir!
É fundamental, na visão da presidente da Ekôa Vet, direcionar mais esforços para a prevenção de problemas de saúde mental. “Essa é uma crítica que eu, frequentemente, tenho abordado, não apenas na Veterinária, mas, também, em um contexto cultural mais amplo que envolve os seres humanos. Tenho enfatizado essa perspectiva tanto em salas de aula, quanto em diversos outros contextos, especialmente na área da educação. É crucial começarmos a trabalhar na base, desde o início dos cursos, a fim de preparar os profissionais de forma mais sólida em termos emocionais. Isso inclui capacitar esses profissionais para lidar tanto com as demandas emocionais apresentadas por seus clientes, quanto com as demandas emocionais dos colegas de equipe, já que esse aspecto também é relevante. Além disso, é necessário que estejam preparados para lidar com suas próprias demandas emocionais”, argumenta.
Bianca aproveita para fazer um apelo às grandes instituições, empresas e associações ligadas à Medicina Veterinária para que haja uma união a fim de trabalhar colaborativamente, visando implementar ações mais concretas em prol dos médicos-veterinários, que desempenham papéis essenciais na sociedade e na cultura. “Mas, é importante lembrarmos que, para que possam cumprir esses papéis da maneira mais eficaz, é essencial que estejam em boa saúde mental. Nem sempre conseguirão atingir esse estado por conta própria, na verdade, na maioria das vezes, isso não é possível. É evidente que necessitamos de ajuda, de uma rede de apoio eficiente. Construir uma rede de apoio sólida permitirá que os veterinários obtenham o suporte necessário para enfrentar os desafios emocionais associados à sua profissão, contribuindo, assim, para um desempenho mais eficaz e saudável em seus papéis fundamentais”, conclui.
Exemplo a ser seguido
A Vetnil®, uma das maiores empresas do setor veterinário e parceira de quem cuida, reforça a importância do tema no âmbito da Medicina Veterinária e o seu apoio aos seus profissionais. “Na Vetnil®, nos dedicamos a estar ao lado do médico-veterinário em sua rotina de cuidados com os pets e seus desafios, assim como nos empenhamos em enriquecer sua trajetória profissional. Participamos ativamente dos principais eventos do segmento, proporcionando oportunidades para compartilhar conhecimento e trocar experiências. Além disso, oferecemos uma ampla gama de conteúdos técnicos voltados para a atualização e desenvolvimento tanto profissional, quanto pessoal, auxiliando-os a elevar a qualidade dos cuidados prestados aos animais. Nossa missão é apoiar, em todos os aspectos, aqueles que dedicam suas vidas ao bem-estar animal”, revela a gerente de Marketing Pet e Institucional da Vetnil®, Michelle Bertolini do Couto.
Especificamente neste mês de setembro, quando se celebra o Dia do Médico-Veterinário, e, também, a campanha ‘Setembro Amarelo’ ganha força, a Vetnil® irá veicular uma série especial de vídeos em suas páginas no LinkedIn e YouTube dedicada a estes profissionais. “Esta série, realizada em colaboração com a Ekôa Vet, se concentra na saúde mental dos médicos-veterinários. Abordaremos tópicos essenciais como: “O impacto da gestão de carreira na saúde mental”; “Comunicação de más notícias”; “O luto na rotina veterinária”; “A influência do ambiente sobre a saúde mental”. Convidamos todos a se juntarem a nós nessa jornada de conscientização e aprendizado”, convida.
E, para destacar ainda mais a relevância da saúde mental na Medicina Veterinária, em novembro, a Vetnil® patrocinará o III Simpósio Ekôa Vet & Vetnil, sendo a primeira edição em formato presencial, sobre essa temática da Ekôa Vet. “O evento contará com diversas palestras, trazendo especialistas da área Veterinária e da Psicologia que compartilharão seus conhecimentos acerca de importantes temas, presentes na realidade dos veterinários, que podem impactar a saúde mental. O principal objetivo é intensificar a visibilidade e a importância do cuidado com a saúde mental entre os profissionais da classe veterinária. Reconhecemos o valor de abordar esse assunto, tão essencial quanto cuidar da saúde dos animais”, finaliza Michelle.